O aposto, após sujeitos postos
na boca, no ouvido.
O rir sem poder rir.
Nem ir. Nem vir.
Vida em travessuras cotidianas
noturno aproximar sentir
esfregas em coxas insanas
ritmo e parceria, sutis, conter
Volátil volver na noite
tal vinho sem stop aroma.
Contas em alta? a champagne
em lábios enganos do viver
o tempo. Picollo.
Sempre.
Copos a mais ou a menos
água com bolinhas
vazios a preencher
Quartos ao lado, sonos
distantes sonhos devir
porta fechada. Aberta?
desejos sem travessia
As letras. Na arte unem saber.
Caminhada em corpo distante
próxima-mente, se as mentes
transpassadas, trespassadas
almas seguissem em frente.
Cidade alegre do sol
grama e céu, prateado
Guaíba doido que dorme
cúmplice. O nadar ao nada.
O sorriso, a partilha, a mala
cruzados olhares e acesas
as velas na sala em oração
o desejo poderia?
Castanhos no verde - verdes no castanho
Uma valsa de Strauss? Ou rock.
On the rocks.
Escondido prazer solitário. Prokofiev.
Vivaldi? adormeceu no conto de fadas.
O beijo na boca, na boca, na boca?
Sem poder, a mordida no pescoço
foi o gerânio roubado
de trinta anos de perfume
de abraços suspensos em beirados
tal e qual lambrequins
menos falsos, menos falsos
aqueles eram originais?
Sob carvalhos lilases tapetes
há tempo devir?
Sentidos afetos de muito
olhar a mesa posta
o comer-se pelo ar
há sabor?
Erros... O muito envelopado.
Aquela cena. Pena. Desatenta
ela, territórios a conter e a esvaziar
complexa mulher que se quer comum
e ainda ter que ser de Atenas!
Morada prenhe de antenas
e cuidados. A falta de.
O abandono.
Ele envidraçado.
Ela. Na corda bamba.
No proibido sentir,
o ser de si. Em si e por si.
Singular
apenas um.*
Marilice Costi - 2009
Metáforas, imagens... literatura, pintura, música, expressão corporal, escrita... liberdade, tudo para você viver melhor! Desbloqueie a escrita e seus sentimentos. Encontre sua expressão singular! Com a Arteterapia, você se reconhece na própria criação! Um cuidado delicado.
texto abaixo do cabeçalho
28 de nov. de 2009
13 de out. de 2009
TEMPOS FRÁGEIS
Marilice Costi mostra a nova etapa de uma escritora que vinha se dedicando à poesia e ao ensaio. A autora reinventa a realidade e vai além das aparências. Expõe, às vezes com real crueza, a inquieta vocação da literatura, que não é a apresentação de soluções, mas um inventário de questionamentos. Várias de suas histórias apresentam personagens em situações-limite.
Há quem acredite numa literatura feminina. Talvez, independente de autor ou da autora, o que há é uma sensibilidade aguda; esta sim pode ter um olhar, um viés, uma percepção peculiar que parece também caracterizar a poesia, as crônicas e, aqui, os seus contos.
Suas histórias revelam-se convincentes, contundentes e permanecem além da leitura. E possuem uma força de verossimilhança que só escritores ligados umbilicalmente à nossa aventura cotidiana parecem atingir. (Fernando Neubarth)
O Prefácio é de Deonisio da Silva e, nas abas, o parecer de Jane Tutikian.
Marilice Costi mostra a nova etapa de uma escritora que vinha se dedicando à poesia e ao ensaio. A autora reinventa a realidade e vai além das aparências. Expõe, às vezes com real crueza, a inquieta vocação da literatura, que não é a apresentação de soluções, mas um inventário de questionamentos. Várias de suas histórias apresentam personagens em situações-limite.
Há quem acredite numa literatura feminina. Talvez, independente de autor ou da autora, o que há é uma sensibilidade aguda; esta sim pode ter um olhar, um viés, uma percepção peculiar que parece também caracterizar a poesia, as crônicas e, aqui, os seus contos.
Suas histórias revelam-se convincentes, contundentes e permanecem além da leitura. E possuem uma força de verossimilhança que só escritores ligados umbilicalmente à nossa aventura cotidiana parecem atingir. (Fernando Neubarth)
O Prefácio é de Deonisio da Silva e, nas abas, o parecer de Jane Tutikian.
MARILICE COSTI é passofundense. Vive em Porto Alegre desde a década de 70. Arquiteta e urbanista, é Mestre em Arquitetura, Especialista em Arteterapia, escritora e poetisa. Ministra oficinas de escrita desde 1996. Editora e capista de O cuidador (a revista dos cuidadores) e também do livro de contos. Recebeu o Prêmio Açorianos 2006 com Ressurgimento. É autora de: A influência da luz e da cor em corredores e salas de espera hospitalares(2001) e Como controlar os lobos?(2002). Mulher, ponto inicial, Clichês domésticos com o selo da Movimento. www.sanaarte.com.br
21 de set. de 2009
SÍSIFO
(você encontra este mito na revista O CUIDADOR 7)
montanha que se avoluma
a minha revelia
meu fardo
carrego sementes
sem plantá-las
carrego música
mas todos estão surdos
carrego cores
e não há papel
carrego crias
que não vivem sem mel
sem um conto de reis
sem contos
e um monte de papéis
sou rastros de longa estrada
de gastos coturnos
e permanentes pesadelos noturnos
é cobra e borboleta
é corte e costura
é fogo e terra
outro Everest me chama!
quando serás colina?
carrego pedra e húmus
um mágico torto
o sacro perdido
e noites em claro
de perpétuo labor
entre detritos
o sino não toca
os galos não cantam
e a luz vomita
meu codinome
é retransformado mito
no dia-a-dia
corroídas entranhas
e olhos arregalados
Sísifo nunca dorme
e gasta sapatos
como eu
montanha que se avoluma
a minha revelia
meu fardo
carrego sementes
sem plantá-las
carrego música
mas todos estão surdos
carrego cores
e não há papel
carrego crias
que não vivem sem mel
sem um conto de reis
sem contos
e um monte de papéis
sou rastros de longa estrada
de gastos coturnos
e permanentes pesadelos noturnos
é cobra e borboleta
é corte e costura
é fogo e terra
outro Everest me chama!
quando serás colina?
carrego pedra e húmus
um mágico torto
o sacro perdido
e noites em claro
de perpétuo labor
entre detritos
o sino não toca
os galos não cantam
e a luz vomita
meu codinome
é retransformado mito
no dia-a-dia
corroídas entranhas
e olhos arregalados
Sísifo nunca dorme
e gasta sapatos
como eu
28 de jul. de 2009
PASSA TEMPO
compasso de espera
compasso de espera
compasso de espera
com qual passo?
passará?
*
Marilice Costi
compasso de espera
compasso de espera
com qual passo?
passará?
*
Marilice Costi
4 de jun. de 2009
30 de mai. de 2009
É VERO!
Um de meus filhos está sempre saudoso. Amoroso e ingenuo. Tem pernas longas mas seu andar é menino. Esse filho sempre tem saudade mesmo estando bem perto. Deve ser porque ele tem um amor enorme que, não cabendo dentro dele, preenche-o tanto que gera desconforto. Assim como um balão muito cheio prestes a estourar.
Palavras podem ser faróis quando iluminam caminhos de compreender a quem amamos. Por isto a importância daquele emêil do centro do Estado do RS, com a frase: Saudade é um amor que fica!
30/05/2009 - Marilice Costi
Palavras podem ser faróis quando iluminam caminhos de compreender a quem amamos. Por isto a importância daquele emêil do centro do Estado do RS, com a frase: Saudade é um amor que fica!
30/05/2009 - Marilice Costi
4 de mai. de 2009
REGISTRE A PRÓPRIA ALELUIA
Marilice Costi
O prazer nas palavras? Significados. Reconhecer-se ao redesenhar o próprio interior?
A palavra deveria brotar sempre em castelos de areia e de pedra. Um cavar até encontrar fluidez.
Novelos a querer movimento, fios de linha a enovelarem-se e a desatarem nós.
Com o tempo, agarrar o abecedário pelos fios e olhar-se no espelho. Senza paura.
A escrita vira produto? Outra história. Um trabalhão?
Quase sempre as luzes acendem.
*
29 de mar. de 2009
SOBRE OFICINAS: TRANSGREDIR A ALMA
A oficina de escrita é um ambiente de troca de informações num movimento cognitivo e afetivo. O reconhecer-se, o aprender a técnica: forma, enxugamento, clareza, fluidez, concisão. É onde se descobre a própria singularidade.
Se para a comunicação são necessários emissores e receptores, em oficinas é preciso afeto. Não apenas entre as pessoas mas, especialmente, com a língua-mãe: a que nos dá o sentimento de pertencer a uma família, a um grupo social e a um país.
Despejar em uma folha de papel em branco é um ato de coragem. O início. Palavras sem nexo, complexas e sem clareza são comuns. O que o nosso cérebro permite registrar. Sem medo, abrem-se portas para a criação.
Esse fato é maravilhoso e é preciso lhe dar o devido valor. A pulsação, impulso criativo desorganizado, aos poucos, gera ordem mental.
Se para a comunicação são necessários emissores e receptores, em oficinas é preciso afeto. Não apenas entre as pessoas mas, especialmente, com a língua-mãe: a que nos dá o sentimento de pertencer a uma família, a um grupo social e a um país.
Despejar em uma folha de papel em branco é um ato de coragem. O início. Palavras sem nexo, complexas e sem clareza são comuns. O que o nosso cérebro permite registrar. Sem medo, abrem-se portas para a criação.
Esse fato é maravilhoso e é preciso lhe dar o devido valor. A pulsação, impulso criativo desorganizado, aos poucos, gera ordem mental.
Depois é a costura. Desligar-se da escrita no papel, aquele amado objeto, para mexer, riscar, tirar, colocar, subverter, enriquecer, modificar, melhorar, esclarecer. A limpeza textual apaziguará as emoções desordenadas. É quando mestre e aluno comungam na mesma direção. A escolha do aprendiz e o direito à expressão.
Para o ofício do escrever, é preciso amorosidade, especialmente com as palavras. Entupidoras de nossas mentes, dispostas sem ordem nem dicionário... e remexer no abecedário em busca do não-clichê.
Se ao balbuciarmos as primeiras palavras, estabelecemos o vínculo primevo e mais profundo, como podemos tratar a linguagem de forma dura e técnica, desconsiderando que, naquele movimento labial, houve o registro e início da nossa expressividade? O tesouro, a mente?Uma arca repleta de jóias.
Se ao balbuciarmos as primeiras palavras, estabelecemos o vínculo primevo e mais profundo, como podemos tratar a linguagem de forma dura e técnica, desconsiderando que, naquele movimento labial, houve o registro e início da nossa expressividade? O tesouro, a mente?Uma arca repleta de jóias.
A palavra precisa de colo e de elos. A técnica não pode machucar. Aprender percebendo motivos nas escolhas. Exigir técnica sem delicadeza, pode ocasionar sérios bloqueios nas pessoas. Por isto, ir devagar, descansando a mente ao deixar o texto dormir. Reler tempos depois. E não se exigir demais.
São muitas as pesquisas que vêm provando que o cérebro é reativado a cada estímulo criativo. Escrever, pintar, desenhar, esculpir, costurar, cozinhar, enfeitar um prato, mudar as coisas de lugar, experimentar. Enquanto capazes de se surpreender com vida, teremos saúde.
Regras engessam o processo. Dessa forma, não se voa para o fazer, mas para um “não fazer”. A palavra “não” traz um ranço preconceituoso, podador e autoritário. E isto também tem a ver com a poda que é feita durante a vida: a sociedade a moldar indivíduos.
A coragem de criar é o que possibilita a transgressão. E transgredir é fazer o novo sendo responsável por ele. Não é apenas um ato de revolta. Mas o sair do lugar comum é o que faz a diferença: cavar a liberdade, pois somos frutos de um tempo onde o sensível precisa rasgar espaço para sobreviver.
E cobrar disciplina? Impossível ser escritor sem o prazer de escrever. Quem escreve adquire a própria disciplina porque ama o que faz. Do contrário, é provação.
Morreria se não pudesse escrever? perguntou Rainier Maria Rilke. Se a resposta é afirmativa, és um escritor...Aquele que se enrosca em seu texto como um gato em um novelo. Sobra um "rolo" que lava a alma, palavras escovadas jorram confissão. Escrever penetrando na alma universal e singular, viver as polaridades e as sintetizar. Cúmplice ou narrador onisciente, a técnica se incorpora na tecitura do próprio escrever.
Daí, o voo passa a ser cúmplice dos amigos, dos revisores, dos editores.
Voo de asa delta.
MUTATIS MUTANTIS
Minha escrita é mutável. Processo criativo raramente pronto.
No decorrer dos dias, poderei lavar os textos ou mudarei o curso do rio,
encontrarei porto para a semântica,
versos alinhavarão tempos de ser tudo ou nada.
Bendita informática a permitir reconstruções.
Por isto, o publicado aqui poderá "alegrar" frequentes mutações.
Escrever, reescrever, avaliar, refazer, apagar, modificar, clarear, remover.
Até chegar ao ponto de bala.
O último será melhor, mesmo sentido um primeiro,
mais maduro ser.
Marilice Costi - POA, 15/09/2008
No decorrer dos dias, poderei lavar os textos ou mudarei o curso do rio,
encontrarei porto para a semântica,
versos alinhavarão tempos de ser tudo ou nada.
Bendita informática a permitir reconstruções.
Por isto, o publicado aqui poderá "alegrar" frequentes mutações.
Escrever, reescrever, avaliar, refazer, apagar, modificar, clarear, remover.
Até chegar ao ponto de bala.
O último será melhor, mesmo sentido um primeiro,
mais maduro ser.
Marilice Costi - POA, 15/09/2008
E VALE A PENA?
APENAS UM poema de acasos/de casos/de ocasos/de ocos/de socos/de cacas/de cocos/de sacos/de sacas/de sacar as cacas/as escaras/raras panquecas recheadas de muquecas/cuecas e munhecas/de petecas/de sonecas/de bonecas/de nenecas/de araras/de taras/de caras/de ecas. Hecatombes.
Um apenas. Poema de ocaso oco e raso.
Um caso de dor.
Um apenas. Poema de ocaso oco e raso.
Um caso de dor.
FÊMEA SUL-AMERICANA
transgressora menina
que não cala e embala
latino-americana
de mesma memória
de las Madres de Mayo
de filhos, de talhos
revolucionários
vive para o novo
em si, dentro e fora
hospeda na alma
aguerridas mulheres
homens de muitas pátrias
na marca dos dedos
perseguidas Anitas
todas digitais
fortes, carnais
compadecidas
mi sombrero es mi padre
desafiadora boina
o lenço é sangue
empreendedora
um porvir de colos a dar
onde os meninos?
no fundo do poço
vertentes
na teia do criar
sementes
Gaia, barro, argila
corpos a renascer
teto, caverna,matas,
pó de estrada
móvel morada de quimeras
de los defensores de la tierra
de los hombres de nueva mirada
de los espiritos del cielo y del mar,
del mar, de las viñas del amar
que não cala e embala
latino-americana
de mesma memória
de las Madres de Mayo
de filhos, de talhos
revolucionários
vive para o novo
em si, dentro e fora
hospeda na alma
aguerridas mulheres
homens de muitas pátrias
na marca dos dedos
perseguidas Anitas
todas digitais
fortes, carnais
compadecidas
mi sombrero es mi padre
desafiadora boina
o lenço é sangue
empreendedora
um porvir de colos a dar
onde os meninos?
no fundo do poço
vertentes
na teia do criar
sementes
Gaia, barro, argila
corpos a renascer
teto, caverna,matas,
pó de estrada
móvel morada de quimeras
de los defensores de la tierra
de los hombres de nueva mirada
de los espiritos del cielo y del mar,
del mar, de las viñas del amar
20 de fev. de 2009
CONSTRUÇÕES CRIATIVAS 1 - das palavras
Há palavras que não precisam ser ditas. Estão implícitas na voz, no gestual, na escrita. Outras, não devem ser ditas de tão gastas e sem sentido. A palavra amor parece que não deve ser pronunciada. Ela é exigente, precisa de tempo para ser construída entre dois seres, precisa de espaço de expansão de sentimentos dos mais variados tipos. Amar implica em permitir-se sentimentos ambíguos. E exige dedicação. Diferente da paixão avassaladora e com um fim determinado. A paixão não traz em si o ato de cuidar, mas o ato de conter, de prender, de consumir.O tempo de hoje faz com que as palavras ditas descuidadamente se tornem sem sentido. A palavra pode ser: acertos e combinações que ocorrerão, a expressão de um sentimento qualquer, os registros da vida, a literatura, os documentos, o trabalho, a bobagem, o lúdico, o importante no dizer sobre nossos afetos Se o hábito as deixou vazias, carecendo de sentido, há que encontrar seu rumo. Na distância, sobrevivem compondo colagem, tatuagem, aromas e memórias. Elas se perdem num sopro? As permanentes palavras são a linguagem que se torna impermanente se relacionada ao tempo de nosso viver. O hoje que deixou de ser, o desejo que ficou no ar, o futuro que só nos cabe sonhar e projetar utopias.Palavras podem adquirir um brilho próprio. Aquecem a alma, amalgamam carinhos quando sua temperatura de cor ressalta o tom exato do aconchego, o ponto certo do cuidado, o ouvido atento na acolhida.Tais palavras? Quem não as deseja ouvir?Valem mais, se inesperadas? Ato falho ou intencional, quando o sentimento perpassa sem querer querendo: pulmão, diafragma, garganta, cordas vocais e saltita reverberando na testa, entre os olhos, como se fosse apenas um simples acorde em ré menor, a voz. Pode ser um monossílabo da soprano no coral da Canção da Alegria de Beethoven ou da ópera Carmem, de Bizet. A musicalidade em sentimentos de amorosos instintos está no sentido de poder. de transpor limites e compor desejos.É quando os aromas, retidos nas histórias vividas, se apropriam do ser e fluídos ocupam seu lugar. É quando o corpo se umedece em natural preparo para o tocar e o ser tocado, no vir a ser de almas que se fundem, em novo devir. Muitas palavras não ditas tomam formas nas entranhas. A guiarem movimentos de viver. Bem viver. Alegria de viver. Saber das palavras que de tão benditas nem precisam ser ditas. Faz bem ouvi-las. Se o tom de voz contiver ternura, elas estarão todas ali, prontas para serem de ambos, pertença e prazer de conviver.
Marilice Costi - 20/09/2009
Marilice Costi - 20/09/2009
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