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21 de set. de 2009

SÍSIFO

(você encontra este mito na revista O CUIDADOR 7)

montanha que se avoluma
a minha revelia
meu fardo

carrego sementes
sem plantá-las

carrego música
mas todos estão surdos

carrego cores
e não há papel

carrego crias
que não vivem sem mel
sem um conto de reis
sem contos
e um monte de papéis

sou rastros de longa estrada
de gastos coturnos
e permanentes pesadelos noturnos

é cobra e borboleta
é corte e costura
é fogo e terra

outro Everest me chama!
quando serás colina?

carrego pedra e húmus
um mágico torto
o sacro perdido
e noites em claro
de perpétuo labor
entre detritos

o sino não toca
os galos não cantam
e a luz vomita

meu codinome
é retransformado mito
no dia-a-dia
corroídas entranhas
e olhos arregalados

Sísifo nunca dorme
e gasta sapatos
como eu

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