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8 de mai. de 2010

PIANÍSSIMO

Vânia me esquenta as pernas. Trocamos temperaturas. Sofro neste sul invernoso. Ela adora um colo, não importa a estação. Prefiro que nos aninhemos quando há frio ou estou carente. Ela defende com garra o nosso território dos estranhos. Semana passada, uma amiga trouxe um cão-bebê. As atenções mudaram de foco e o que nunca demonstrou em anos de convivência ecoou em meus ouvidos: um fortíssimo som de dor.
Conhece os meus amigos e, quando eles chegam, seu tom é de boas-vindas. Sente que pode ganhar outros colos.
Quando percebe que vou sair, olha-me lânguida, entristece. No meu retorno, é queixosa. Reclama muito. E dissonante, encontra-se afônica de tanto chorar. A saudade. O abandono.
Quando volto de viagem, ela é a própria fêmea ao me receber, esfrega-se. Mal consigo levar a mala pelo corredor porque nos enroscamos uma na outra até meu quarto, onde passamos a brincar com alegria e delicadeza. Ela me cheira desde o pé, parecendo querer saber por quais caminhos andei. Onde mal suporto que me toquem, ela eu permito e gosto. Ela acolhe o meu cansaço em qualquer santo dia. Merece meu colo. Mas não podemos avançar. Dever-se-ia? Tão curta a vida. Suavemente nos deliciaríamos em carícias, lambidas, esfregaços, arrepios, pequenas mordidas, grandes mordidas, tudo sem machucar. Marcas de amor.
Quase gente. Ela deve ser assim por causa do nome.


Marilice Costi - 2009

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