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21 de mai. de 2010

ESCRITA PERCEPTIVA - um lugar de encontrar

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OFICINA DE ARTETERAPIA


O PODER TERAPÊUTICO DA PALAVRA ESCRITA em relatos de experiência, vivências individuais e em grupo, exercícios e leituras para a compreensão da singularidade, autoconhecimento através de conto, poesia, crônica.


Local: Rua Santana, 666/504 - Porto Alegre / RS Fácil Acesso - Bairro Farroupilha
Investimento: 3 x R $ 250,00 
Início: dezembro de 2016
Total: 40 horas/aula - 12 encontros

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Marilice Costi CV ª Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/8937478893624381

20 de mai. de 2010

O TEMPO de viver E DE IR

A questão do tempo: como medimos, como vivemos e como ele passa num sopro. Parece que foi ontem: eu caminhava na minha rua, grávida – não sabia o sexo – e conversava como se ele fosse um menino, o meu caçula. Meu pai morreu sem conhecer esse neto. E parece que foi ontem que sentei no seu colo, porque ainda sinto o cheiro de sua pele, o calor do seu abraço, sou capaz de reconhecer a sua voz, ver o seu olhar de aprovação e de desconforto.
O tempo - entre aquele momento, em que me questionei sobre o que eu estaria fazendo quando aquele bebê fosse um homem, onde eu andaria, o que teria construído, como pensaria e o hoje - parece um fio longo, vez ou outra enosado, que se juntou a outros.  Uma voz que encontrou sentido. Um risco no papel: onde a palavra vida ali está inscrita sobre tantas outras. Tantas coisas feitas. Tantas escritas.
Aquele sopro, aquele momento continua em mim... como estarei daqui a outros 22 anos? O que será de minha geografia?

*Marilce Costi

9 de mai. de 2010

I.R.

você ficou de ir embora
e eu te comendo com os olhos
entre papéis de imposto de renda
e as minhas rendas

e me rendi na tua pele
em teu corpo língua corpo
em teu aperto peito aberto
ficaste, leão

* Do livro CLICHÊS DOMÉSTICOS, Marilice Costi, Ed.Movimento, 1993.

8 de mai. de 2010

PIANÍSSIMO

Vânia me esquenta as pernas. Trocamos temperaturas. Sofro neste sul invernoso. Ela adora um colo, não importa a estação. Prefiro que nos aninhemos quando há frio ou estou carente. Ela defende com garra o nosso território dos estranhos. Semana passada, uma amiga trouxe um cão-bebê. As atenções mudaram de foco e o que nunca demonstrou em anos de convivência ecoou em meus ouvidos: um fortíssimo som de dor.
Conhece os meus amigos e, quando eles chegam, seu tom é de boas-vindas. Sente que pode ganhar outros colos.
Quando percebe que vou sair, olha-me lânguida, entristece. No meu retorno, é queixosa. Reclama muito. E dissonante, encontra-se afônica de tanto chorar. A saudade. O abandono.
Quando volto de viagem, ela é a própria fêmea ao me receber, esfrega-se. Mal consigo levar a mala pelo corredor porque nos enroscamos uma na outra até meu quarto, onde passamos a brincar com alegria e delicadeza. Ela me cheira desde o pé, parecendo querer saber por quais caminhos andei. Onde mal suporto que me toquem, ela eu permito e gosto. Ela acolhe o meu cansaço em qualquer santo dia. Merece meu colo. Mas não podemos avançar. Dever-se-ia? Tão curta a vida. Suavemente nos deliciaríamos em carícias, lambidas, esfregaços, arrepios, pequenas mordidas, grandes mordidas, tudo sem machucar. Marcas de amor.
Quase gente. Ela deve ser assim por causa do nome.


Marilice Costi - 2009