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7 de set. de 2015

Memórias de Marilice: DULCE E EU

Dulce me acolheu sempre.  Tínhamos histórias comuns desde o meu batizado. Quando casou com Antonio Frederico Knoll, eu já falava e caminhava, gostava muito de queijo. Contam que eu dizia: “quelo peido”...  Minha frase infantil preferida por eles, que relembravam divertindo-se até seus últimos dias...  

Quando moraram em Passo Fundo, foram muitos os encontros familiares. Ela sempre linda, olhos verdes, nos lábios mais batom num desenho além da borda natural, porque não gostava de tê-los como os de papai, fininhos. Era faceira. Lembro da sua casa na rua Paissandu, onde as travessuras dos gêmeos eram frequentes. Um dia, a curiosa, a pequena Denize pendurou-se em um armário e caiu, seu queixo ficou roxo por muito tempo; em outro, Jorge ficou pendurado pelo pulso em um prego enorme no muro. Acompanhei preocupada os cuidados com a Liliane, quando teve hepatite A. Tudo para que ficasse bem, o medo de perdê-la. Eu, tia, com dois ou três anos a mais apenas, acompanhava tudo o que acontecia com meus sobrinhos, os quais eu era responsável nos passeios, nas idas ao cinema, nas voltas ao redor da praça da “cuia” após a missa das dez. 

Mais tarde, adolescente, quando me casei e engravidei pouco depois, não me lembro de críticas em suas falas mas de uma voz suave de orientação, ensinamentos sobre o casamento. Quando morei em Santa Maria, íamos juntas à feira livre. Descíamos a sua rua levando várias cestas e voltávamos carregadas de frutas e verduras da estação. Nas carteiras, apenas o que podíamos gastar. Nada de sacos plásticos. Embaixo as frutas que não estragariam com o peso dos produtos que ficariam por cima. Enquanto seus filhos estavam na escola, eu ficava com ela. Ensinou-me a ser econômica na cozinha e nas lidas da casa. Era totalmente dedicada ao lar e à família.

Fã de esportes, Dulce vibrava com o futebol. Em frente à tevê branco e preta, na Copa do Mundo de 70 e em todos os grenais ouvidos na Guaíba, ela torcia com o marido. Dulce, gremista. Thé, colorado. E havia sempre pipoca e muita diversão. Ele era uma pessoa de bom humor e solidário. E tinham um cãozinho da raça Pequinês, o Ling-Ling, companheiro de longas caminhadas e que,  em um dia de verão, desapareceria na praia para a tristeza de toda a família.

No apartamento singelo recebiam amigos com frequência. Nunca faltava assunto. E em muitos finais de semana, visitávamos cidades próximas, o carro lotado com tantos! Foi o tempo que vivi mais próximo dos dois. Tempo da ditadura, de discussões contidas a quatro paredes das casas. E tudo era motivo para quererem me proteger. Tinham receio de meus arroubos questionadores! Thé era parceiro de discussões políticas e filosóficas, as preferidas. E sempre respeitava minhas opiniões tantas vezes contrárias às suas. Como Juiz concursado da Brigada Militar, analisava muito antes de julgar. Cuidava dos pequenos detalhes, as pistas certeiras para que fizesse justiça. 

Dulce e Thé economizavam muito para cumprir todas as obrigações familiares, para comprar seu próprio apartamento e construir uma casa singela e acolhedora na praia, lugar de festas com churrasco, música e danças, piadas e gozações deliciosas de ouvir madrugada adentro. Lembro dos olhares dos dois, da cumplicidade e dos cuidados. Os chapéus de ambos enfeitando a parede, sua marca inesquecível na Praia de Atlântida. Suas caminhadas de braços dados. Um cuidando do outro, o receio de se machucarem. Reclamavam das calçadas irregulares, do lixo no caminho. Sempre conscientes e cuidadosos com o meio ambiente.

Hoje, Dia da Independência do Brasil, Dulce faria 82 anos. Eu lhe telefonaria, assim como ela sempre fizera em meus aniversários. Trocaríamos carinhos e algumas lembranças rapidamente, não como outras ligações quando falaríamos muito mais tempo.

Data inesquecível, assim como os aniversários de outros irmãos, um feito de Demétrio e sua primeira esposa, irmã de minha avó Adolfina: 24 de dezembro (Sidney), 1º de maio (Cladis) e hoje, 7 de setembro (Dulce),  todas sempre lembradas por minha mãe, Alice. Dias sempre especiais em minha vida!

Direitos autorais - Marilice Costi em 07/09/2015

8 de ago. de 2015

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Marilice Costi – O Cuidador e produção bibliográfica
Inicio da revista O Cuidador
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Capacitação de cuidadores http://youtube.com/watch?v=qQ74O2vp6sA
Sobre o trabalho da editora da revista O Cuidador
Conto de Marilice Costi sobre viagem de ônibus https://youtube.com/watch?v=fMbNutSFY1k
Textos para cuidadores cuidarem de si  http://youtube.com/watch?v=qQ74O2vp6sA
Cuidados com mães, familiares (http://youtube.com/watch?v=qQ74O2vp6sA
Cuidador definição de MC http://youtube.com/watch?v=_kg1Ad6IN-g
Empatia e exaustão do cuidador http://youtube.com/watch?v=2TlO3LzZfaA
Exaustão do cuidador – burn-out http://youtube.com/watch?v=2TlO3LzZfaA
O Cuidador e Contação de Histórias  http://youtube.com/watch?v=_kg1Ad6IN-g
Escolha da Moradia para deficientes mentais http://youtube.com/watch?v=qQ74O2vp6sA
O Cuidador e o suicídio familiar https://youtube.com/watch?v=kmFEUQP0iJ0
O Cuidador e bipolaridade http://youtube.com/watch?v=f9bBtIaFdWQ
O Cuidador e a contação de histórias
Processo criativo e a criação da revista O Cuidador
Quem é o cuidador e como é a revista O Cuidador https://youtube.com/watch?v=VCl-e6ADhPg
Residenciais Assistidos http://youtube.com/watch?v=qQ74O2vp6sA
Serviços ResidenciaisTerapêuticos
Sofrimento psíquico dos irmãos
Tempos frágeis e a revista O Cuidador e Marilice Costi
Vida após o manicômio http://youtube.com/watch?v=qQ74O2vp6sA
A voz do cuidador e cuidados

Campanha GANHA-GANHA – revista O Cuidador  http://youtu.be/-f7netR5_so

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Conheça a revista O Cuidador nesta entrevista com Marilice Costi


21 de abr. de 2015

Memórias de Marilice - HOMENAGEM A MEU PAI Zeferino Demétrio Costi (22/07/1904 - +21/04/1987)


Meu pai deu adeus ao mundo no dia 21 de abril de 1987, mas despediu-se de mim um dia antes. Esperou que eu chegasse de Porto Alegre, perguntou dos netos, um a um sem esquecer do nome dos três e contei-lhe um tantinho da capital, das árvores na avenida Salgado Filho, da Redenção.
Eu acariciei sua testa, beijei-o e senti o cheiro da sua pele – o que lembro até hoje - peguei sua mão esquálida e, mesmo enjoando devido à minha gravidez, não lhe contei. Ele se desligou assim que olhou para o canto do quarto e disse: Sai Adolorata! Ele não sabia que ela viera buscá-lo e aguardava nossa despedida. Adolorata era minha avó.
Naquela madrugada, a última UTI.
Isso foi há mais de vinte anos.
Um vão eterno se estabeleceu dentro de mim, onde moram até hoje abraçados o meu amor e minha saudade.

Tanto queria ouvi-lo. Tanto queria o seu olhar. A sua ternura. Ouvir seu pedido para que lhe entregasse os chinelos e o cobertor nos dias de frio, quando voltava da fábrica e aguardava a janta.

Papai morreu sem saber que eu gestava mais um homem da família. Mas tenho certeza que se foi sabendo o quanto era amado por todos.

_____

O dia de Tiradentes tem a ver com sua ideologia libertadora. Era um homem de respeito, pela lei, pelos direitos humanos e ensinava através do exemplo. Lutou até o final de sua vida para manter produtos de qualidade no Frigorífico Z.D.Costi e Cia. Ltda. (leia-se sem carboidratos na massa das carnes). Seu projeto de vida sucumbiu em problemas de gestão e sacanagem do governo federal, que destruiu a rede de frigoríficos gaúchos.

O bairro São Cristóvão se desenvolveu a partir da implantação do seu frigorífico na década de 40. É patrono da Escola Municipal do SESI de Passo Fundo. Saiba mais aqui..

Tinha um cuidado enorme com a saúde, com a higiene, com o valor dos alimentos sem aditivos e sem agrotóxicos. Empreendedor, sabia trabalhar no ganha-ganha. O que tanto ensinam hoje nas academias.
Junto com Alice Sana Costi, minha mãe, deixou um legado de pessoas comprometidas com a humanidade. 


  pater-semente-lugar



acolhe ninhos e perdidas pipas

forte raiz que espalha os pés na terra

maduro tronco para o alto, rígido

isola a seca e a fome que enterra


longos os ramos, mesmo quebradiços

braços, desenhos contra o azul do céu

massas folheares ao sabor do vento

quentes abraços com sabor de mel


quando divago no final da tarde

ele é quem vejo em mim no meu cantar:

as mãos cansadas e o regaço imenso


o seu desejo é que o consenso guarde

a paz, a mirra e a luz: intenso advento

unindo a força ao construir lugar


Poema (1992) e pintura  tela com tinta acrílica (2013-2014) de Marilice Costi 







13 de mar. de 2015

Memórias de Marilice: DO CRIAR, DA SUSTENTABILIDADE E DO CUIDADO

Quando menina, eu dizia que não queria ser parecida com minha mãe. E arrematava: Deus me livre! Ela dizia, Mari, veja isso, veja aquilo. E eu a observava rapidamente antes de correr para brincar.
Eu não queria, no futuro, fazer como ela dia e noite. Medir, marcar, cortar, alinhavar, dar um ponto aqui outro lá, desmanchar, refazer. O reaproveitamento das coisas feito com dedicação e empenho. Gostava de se realizar com a peça terminada. Me parecia tempo demais naquela saleta de costura onde ela transformava uma roupa velha de um adulto em algo inovador para um neto.

E também que eu não conseguiria cuidar de pessoas com deficiência. Porque choraria o tempo todo, o que ocorreria ao vê-los desfilar nas passeatas de 7 de setembro. Não sabia o que fazer com a minha empatia. Diferentemente do que vivi este ano: o Carnaval da inclusão da APAE, 50 anos depois.

Eu nem desconfiava que ela, através de suas ações na saleta de costura e fora dos muros da nossa casa, estava a me ensinar o valor do trabalho, da vida, a sustentabilidade, a capacidade de criar. Tudo que faço agora insanamente em meu trabalho textual e no cuidado, tanto com o meio ambiente quanto com as pessoas.

Tudo o que aprendi ao vê-la está dentro de mim. Também trabalho demais como ela tendo prazer com as tarefas encerradas.

Vão-se os amores, ficam as dores e o seu exemplo. Ah, as dores da saudade, minha querida mãe Alice Sana Costi.





24 de fev. de 2015

A revista O Cuidador é finalista no Prêmio Brasil Criativo!

                            
Queridos amigos e apoiadores!

Foi muito importante termos os seus votos, o seu carinho, o seu comprometimento, doando parte de seu tempo para a revista O Cuidador.
É com muita alegria que informamos que como FINALISTA no Prêmio Brasil Criativo, estivemos presente na bela festa no Auditório do Parque Ibirapuera no dia 03 de dezembro de 2014.

Não temos palavras para agradecer!

Marilice Costi
editora-chefe da revista O Cuidador



NEGAÇÃO-ACEITAÇÃO


negar que a dor
é a raiz da história
da consciência
e da descoberta do mundo

jogar-se contra si
furacão e ave de rapina

erguer o sabre
e perder-se no mundo

quatro paredes mal-dormidas
noites como égua em cio

um vão - fantasmas de concreto
ave morta na gaiola
menina morta
granada rompida mulher

toque de recolher
silêncio

aceitar a dor
romper em vida
perpetuar a terra.

in MULHER PONTO INICIAL. Porto Alegre: Movimento, 1985. Coleção Poesiasul vol 53, p.23.