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21 de abr. de 2015

Memórias de Marilice - HOMENAGEM A MEU PAI Zeferino Demétrio Costi (22/07/1904 - +21/04/1987)


Meu pai deu adeus ao mundo no dia 21 de abril de 1987, mas despediu-se de mim um dia antes. Esperou que eu chegasse de Porto Alegre, perguntou dos netos, um a um sem esquecer do nome dos três e contei-lhe um tantinho da capital, das árvores na avenida Salgado Filho, da Redenção.
Eu acariciei sua testa, beijei-o e senti o cheiro da sua pele – o que lembro até hoje - peguei sua mão esquálida e, mesmo enjoando devido à minha gravidez, não lhe contei. Ele se desligou assim que olhou para o canto do quarto e disse: Sai Adolorata! Ele não sabia que ela viera buscá-lo e aguardava nossa despedida. Adolorata era minha avó.
Naquela madrugada, a última UTI.
Isso foi há mais de vinte anos.
Um vão eterno se estabeleceu dentro de mim, onde moram até hoje abraçados o meu amor e minha saudade.

Tanto queria ouvi-lo. Tanto queria o seu olhar. A sua ternura. Ouvir seu pedido para que lhe entregasse os chinelos e o cobertor nos dias de frio, quando voltava da fábrica e aguardava a janta.

Papai morreu sem saber que eu gestava mais um homem da família. Mas tenho certeza que se foi sabendo o quanto era amado por todos.

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O dia de Tiradentes tem a ver com sua ideologia libertadora. Era um homem de respeito, pela lei, pelos direitos humanos e ensinava através do exemplo. Lutou até o final de sua vida para manter produtos de qualidade no Frigorífico Z.D.Costi e Cia. Ltda. (leia-se sem carboidratos na massa das carnes). Seu projeto de vida sucumbiu em problemas de gestão e sacanagem do governo federal, que destruiu a rede de frigoríficos gaúchos.

O bairro São Cristóvão se desenvolveu a partir da implantação do seu frigorífico na década de 40. É patrono da Escola Municipal do SESI de Passo Fundo. Saiba mais aqui..

Tinha um cuidado enorme com a saúde, com a higiene, com o valor dos alimentos sem aditivos e sem agrotóxicos. Empreendedor, sabia trabalhar no ganha-ganha. O que tanto ensinam hoje nas academias.
Junto com Alice Sana Costi, minha mãe, deixou um legado de pessoas comprometidas com a humanidade. 


  pater-semente-lugar



acolhe ninhos e perdidas pipas

forte raiz que espalha os pés na terra

maduro tronco para o alto, rígido

isola a seca e a fome que enterra


longos os ramos, mesmo quebradiços

braços, desenhos contra o azul do céu

massas folheares ao sabor do vento

quentes abraços com sabor de mel


quando divago no final da tarde

ele é quem vejo em mim no meu cantar:

as mãos cansadas e o regaço imenso


o seu desejo é que o consenso guarde

a paz, a mirra e a luz: intenso advento

unindo a força ao construir lugar


Poema (1992) e pintura  tela com tinta acrílica (2013-2014) de Marilice Costi