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19 de dez. de 2010

Pé no chão e pá de cal

Conseguiria falar nele sem doer-lhe as entranhas, olhar para o que sentira por aquele homem sedutor e abandonador e dizer a si mesma, pá de cal? Ela lembrou o livro dos homens que não sabem amar. Tanto dele ali, capítulos e capítulos. O tudo e o nada. O sim e o não. O sair de perto quando o momento era de contrato. O enfiar a cara no uísque para esquecer a dor. O estar eufórico e viver a vida como se não tivesse amanhã. O não compromissar-se.
O lago em frente, plácido, a tarde quente, o lanche que sobrou que levaria para jantar com a nova mulher. A paisagem era como a necessidade deles, que a vida tranquilizasse o coração. Ele falou, falou e falou. Tantas intimidades. Sentimentos atuais, a preocupação com o futuro. Novidades vindas daquele senhor de meia idade, que parecia um guri ao sorrir.  Ela ouviu, ouviu e ouviu. Entre eles, o sentimento de sempre e inexplicável.
Quase no final da conversa, ele disse que para o homem era suficiente ter em quem escarrar. Mas que o sexo para a mulher era diferente. Ela quis ponderar, mas ele insistiu. Ela pensou, não vale a pena perder tempo com isso.
Na despedida, o abraço foi caloroso, mas descolaram-se rapidamente (seria o  medo de tocar interiores?). Foi breve o afastamento e logo um outro abraço, como que a conter aqueles corpos num só. Coisa de segundos. E de novo, o inexplicável.
Nela, a lembrança do perfume que ele tinha entre as pernas e o prazer de esfregar-se como uma gata ao cheirar seus genitais. Adocicadamente seco. O Capim Cheiroso que ele lhe dera há décadas, ali. E nele? Jamais saberia. Passariam quantas décadas para talvez saber?
Nesse dia, ela acreditou no que ele dissera, mais do que em todo o tempo de parceria que haviam tido há muitos meses.  O tudo e o nada num ínfimo contato. O antes se esvaindo nos corpos lado a lado sem ponto de fuga na linha do horizonte. Então ela leu nas entrelinhas.
Ele encontrara a sua mulher ideal. Agora tinha onde escarrar.

Marilice Costi - miniconto - 18 dez 2010.

12 de dez. de 2010

DAS ENCRENCAS 2

Horrivel de ler aquela resposta no meio do texto do e-mail que enviei... A escrita curta. A falta de tempo. Quando enxugo minha escrita, nem sempre as pessoas entendem. Quando me alongo, reclamam. Síntese é
o masculino. Então, mais homens deveriam ser  poetas? A lógica. A filosofia...isto logo aquilo... Seria bom se a vida realmente fosse assim racional. Quando afirmo que talvez devesse ser mais masculina, é disto que falo: da comunicação direta, sem metáforas, sem surpresas. Apenas a frase: não quero mais você. Sem explicações ou delongas. Limpa como "acabou".

A vida é isto? Fulano ama siclano, que ama fulana, que ama beltrano, que gosta de siclano. Todos sozinhos e sem problemas de relacionamento. Vale? A vida tem sentido quando se tem paixão, pode ser por um poste, mas se tem. E quando se pode sentir saudade "de matar" e matá-la.

Ser feliz, é simples. Coisas pequenas e delicadas, momentos intensos, de tempo pouco. Segurança de afeto. Colo. Ganhar é bom. Estimula o dar. Qualquer coisa: um beijo, um olhar, um abraço, uma flor, um pps, um orgasmo. A ordem importa? Sempre primeiro e último, o abraço.

Memórias... Coisas valiosas que dão energia para os momentos de dor. Não é a dor que nos torna fortes, é o sair dela e olhar o que passou. Sentir que sobreviveu a hecatombes. É autoperceber-se forte também ao olhar do outro. Mesmo que não nos sintamos assim.

Amor é coisa grande e perder dói.
Matamos pedaços de nossa vida pensando em um amor que não vingou? Não se morre disso.

Privilégios: lucidez, alimento, casa, afetividade, amigos, criatividade. Tudo vale a pena se a alma não é pequena. - clichê. Tudo vale? Como é bom sentir a alma gorda! De poesia que é a alma da sociedade. Bendita seja ela! A alma. Que seja obesa de alegria! O corpo... o corpo... o corpo... a alma... a alma... a alma... o corpo! Interdependências...
E deixa pra lá! O corpo? Nosso veículo de transporte.
Em e-mails sem voz, sem corpo, sem consistência, se nos entremeios não há entrega, a comunicação é de alto risco. Porque projetar no texto do outro aquilo que sentimos é comum. Muito comum.
Quem não se dá conta, se trumbica.

8 de dez. de 2010

Nietzsche, Barthes e Adelia Prado

"Dizia ele [Nietzsche]: 'Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice? Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar'. Sherazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava com uma boa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: 'Eu te amo, eu te amo...'


Barthes advertia: 'Passada a primeira confissão, eu te amo não quer dizer mais nada'. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: 'Erótica é a alma.'

(desconheço o autor)

6 de dez. de 2010

DEPOIS DAS CINZAS

Quando eu morrer, quero uma varredura nas minhas fotos. Queimar todas as que eu estiver séria. Sou da alegria... A dor fica sob do travesseiro ou no entremeio do dicionário.

Marilice Costi - 2010

21 de nov. de 2010

CORA CORALINA

Poeta é ser ambicioso, insatisfeito, procurando no jogo das palavras, no imprevisto do texto, atingir a perfeição inalcansável.

O poeta e a poesia (Vintém de cobre)

16 de nov. de 2010

DOS CUIDADORES 1

Todo mundo achava que a avó não ia viver muito depois daquela internação. A família acreditou que não passaria o próximo inverno. O que entristeceu a todos. Foi quando os filhos decidiram dividir tudo que havia no apartamento dela. A partilha já estaria feita.
Mas ela, firme e forte e com desejo de viver, continuou no território do filho, não tão jovem a ter que administrar os cuidadores, talvez tivesse coisas a resgatar ao conviver com a mãe.
Uma das netas lhe deu mais um bisneto, passava da dúzia e ela ali frágil mas muito feliz com a prole.
O cuidar "uns dos outros" era comum naquele grupo. Uns com os outros?  Não.
Ser cuidador era muito cansativo.

29 de out. de 2010

QUE DEMOCRACIA QUEREMOS?

Dos textos que li, este toca entranhas. Traz nossa base histórica - onde a memória falha - faz pensar o micro e macro ao entremeiar as nossas miudezas, os nossos amores, os nossos medos e a nossa necessidade de criar e de viver como individuo no coletivo. Brilhante Ana Lucia Vilela! Sua escrita dá norte para pensarmos que democracia queremos e por que temos tanto medo dela. Importa é a coragem de arriscar para tentar ser feliz. (clique no título desta postagem e acesse o texto de Ana).

26 de out. de 2010

ELEIÇÕES EM 2010: DESRESPEITO LASTIMÁVEL NO BRASIL

Caro amigo:


Que tempo bom de liberdade! A juventude de hoje não tem a compreensão da luta que houve no Brasil. E isso serve para comunicar o desrespeito? é uma pena. Democracia para a baixaria. Um desvalor. Nunca vi em nossa história, propagandas em nível tão baixo, distorção de imagens e de palavras, coisas colocadas na boca das pessoas, projeção de sentimentos para dar às pessoas a desesperança.
Culpa de quem? Da liberdade de imprensa? Do marketing de ponta?
Que exemplo estamos dando às gerações que vêm inquietas com tantos problemas, tanto excesso de informação?
Quanta facilidade em distorcer o dito pelo não dito, tanta complexidade para encontrar soluções e tão pouca afetividade e convivências sadias, presenciais. Fundamentais!

Lamentável, quando poderia estar havendo o maior embate sobre o valor e o desvalor nas questões sociais, econômicas, culturais, educacionais e tantas coisas importantes: sustentabilidade e energia.

Parei de passar adiante tralhas que recebo. Não tem sentido desconstruir relações de afeto porque as pessoas divergem em seus olhares. Não tenho vontade e nem espaço de vida para por à prova minha resiliência frente ao desrespeito. Quem gosta de ironia é quem agride. Amigos verdadeiros me conheçam. Os da onça passam ao largo.

Incomoda-me mesmo o quanto os candidatos e seu marqueteiros e seus partidos subestimam a capacidade humana de distinguir manipulação e os motivos pelos quais estamos num mar de lama exposto há décadas e um mar de lama inventado há meses.


Estabelecer polaridades no ser humano? Refiro-me à dicotomia esquizóide que presenciamos como nunca,  como se estivéssemos para escolher entre o incompetente e o competente, como se, especialmente depois de Jung, pudéssemos colocar alguém como totalmente "mau" ou totalmente "do bem";  como se, depois do livro do Saramago, o trecho brilhante - no qual Deus e o Diabo discutem o poder - não é uma lição do que vemos de novo, infelizmente.

Faço minhas as palavras do amigo de Dilamar Santos. Mas é com muita tristeza por ver  a perversidade que percebo nas entrelinhas da propaganda política - o tempo e a energia gastos para um desserviço ao país. Podíamos passar sem tudo isso.


Aonde a verdade? Cada um que avalie através do excesso. Todo excesso é ruim: comida demais, bebida demais, propagandas demais.
Sou daquelas que se nega a por fora o voto, tanto que as mulheres lutaram para terem o direito de escolha!


Porque tudo, mas tudo, está na educação. O único tesouro que ninguém é capaz de nos roubar. Isto aprendi com meu pai. Nenhuma fortuna sobrevive se não formos ricos em nosso interior, em nossa humanidade. O maior investimento é o que fazemos em nós mesmos. Depois, podemos cuidar dos outros. E cuidando dos outros, cuidamos também de nós. Abaixo, o recorte do email que recebi.


___
A essas alturas o maior problema não é “quem será eleito?” e sim “como está, e como vai ficar o nível de nossa educação, que está dando tantas mostras de baixaria!” Cadê o respeito tão necessário à vida social e, mais amplamente falando, respeito ao meio? Depois que escrevi sobre “...questão de ordem” e pedi calma, vários correspondentes meus melhoraram em seus contatos comigo: baixaram a bola. Espero que te toques, que faças um exame de consciência pensando em nosso Brasil, na humanidade mesmo.

Democracia só é possível havendo respeito entre os cidadãos; não hipocrisia, que é algo que, sonho, ainda extirparemos da maioria de nosso povo.
Miguel Angelo
____


Caro Miguel,
Imagino como estaria nesse momento o Darci Ribeiro... Brizola... e tantos educadores...
Quem poderia, há trinta anos atrás dizer tanta coisa do outro! O abuso, o desrespeito, a falta de limites. A ausência de controle por parte de candidatos, por parte dos legisladores. Ora, permitir que a mulher do Roriz estivesse no páreo. E tantas coisas mais. O Tiririca! Bem que os deputados merecem se coçar ali e ter que aturar... o que temos que aturar aqui fora!


Sou pelo voto de quem antes de tudo, respeita o meu direito de pensar. Valoriza o ser humano singular.


Marilice Costi

16 de out. de 2010

No Museu da Língua Portguesa

IX Congresso Brasileiro de Arteterapia - São Paulo - out 2010

Só se pode viver parte do outro
e conhecer outra pessoa,
sem perigo de ódio
se a gente tem amor.
Qualquer amor é um pouquinho de saúde,
um descanso da loucura.
João Guimarães Rosa

São Paulo, e a necessidade de estar comigo mesma, foi um tempo de ficar  o maior tempo com muitas pessoas. Na rua, no congresso, no hotel, nos bares. Tudo o que eu não necessitava era estar com muitas pessoas, tamanha a necessidade de me tornar um ovo. Assim como quem não quer nada e aparecer no mundo só o depois,  sem história de antes. Tão bom os recomeços de qualquer coisa: a vida, o amor, o tornar-se mulher, o usar o primeiro soutien, o publicar o primeiro livro, o primeiro beijo, o primeiro orgasmo. 
Estar vivo é um grande milagre, o permanecer nesse universo com noção de finitude e cumprimento do "para que viemos".  Mesmo meio a dores corporais ou mentais.
A arte é o que permite enlouquecer e ter saúde.
A arteterapia é um lugar que deveria ser comum a todas as pessoas. A criação, assim como nascimento, é o que existe de mais precioso. Até a criação de um vínculo, a permanência da amizade, a validez de um beijo roubado, criado assim a esmo, roubado até como um gerâneo oferecido assim como quem oferece um futuro numa noite qualquer.
Viver é para quem tem dom de comprometimento consigo e com o outro.
É quando somos Mario de Barros, Guimarães Rosa e Fernando Pessoa, grandiosos pequenos pedaços de frases, palavras reescritas, vidas reconectadas, novos encontros.
A nossa língua na boca, na boca, na boca. A nossa língua no papel, no papel, no papel. A nossa língua no alimento, no alimento, no alimento.
Boca, papel, estranhamento. A alma na palavra, a palavra na alma. Os suportes e os amigos, o acolhimento.
No meio de muitos na capital paulista; no meio de muitos em mim, sou Porto Alegre. Dias quentes, outros frios, espaço de meu sustento e dos amigos onde me alimento, sou porto feliz.

A arte é para ser de todos. Para ti, pra mim, para conosco, pra convosco. Tal era a comunhão dos dias de domingo, deveria ser sagrada em qualquer dia. A arte. A terapia. O autoconhecer-se vivo e com sentido. Os sentidos. Sem ressentimentos, mesmo com tantos abandonos.
Viver é uma possibilidade de festa ali, ao lado dos outros. E mesmo assim sozinha. Ou sozinha repleta de tantos acompanhamentos. As almas.
Porque a alma na palavra é muito e a palavra de nossa boca no ouvido do outro é lenimento.

Marilice Costi - noite de sábado-saudade

25 de set. de 2010

ORAÇÃO DO POLITICO CORRUPTO

Ave mandato cheio de graça

o trabalho é convosco

bendito é o salário do nosso descanso

bendito é o fruto do nosso furto, também.



Santa reeleição, mãe do poder

máscara de gestos

tumba da ética

higiene de Pilatos

da demagogia eterna,

Amém.


Poema de Marilice Costi - 1985


25 de ago. de 2010

A ARTETERAPIA e A OFICINA DE CRIATIVIDADE (HPSP)

Os primeiros registros artísticos foram encontrados no interior das cavernas. A caverna é útero, abrigo, gruta, catacumba, porão, esconderijo, casa, interior. Todos precisamos de cavernas, lugar privado onde se pode tirar as máscaras tão exigidas e necessárias para sobreviver. Fruto do imaginário, marcas da memória sensível, a arte é capaz de resgatar a memória, limpar nosso winchester cheio, esvaziar, remover o incômodo, muitas vezes, desnecessário.

Dar esta sensação foi intencional em um dos últimos ambientes criados no segundo andar da Usina do Gasômetro para comemorar os 50 anos da RBS? O excesso de imagens podia dar náusea, enxaqueca, mal estar. Cinco décadas de vida e história, foi bom relembrar e foi terapêutico resgatar raízes, mas absorver tanta informação requer tempo.

Diferente foi a exposição Tapete VOA-DOR, na Oficina de Criatividade do Núcleo Nise da Silveira do Hospital Psiquiátrico São Pedro, onde 120 tapetes criativos voam dores nos varais, num espaço onde o vento movimenta o sensível. Impossível não se emocionar com

9 de ago. de 2010

JOSÉ SARAMAGO - Sentirei saudades!

"No entanto, ao longo de toda a fala de Tertuliano Máximo Afonso, apercebera-se de uma espécie de roce incómodo na sua voz, uma desarmonia que lhe distorcia em certos momentos a elocução, assim como o característico vibrato de uma vasilha rachada quando se lhe bate os dedos, que acuda alguém a ajudar Maria da Paz, a informá-la que justamente com aquele som que as palavras nos saem da boca quando a verdade que parecemos estar a dizer é a mentira que escondemos."

"O caos é uma ordem por decifrar."
"Diz a sabedoria popular que nunca se pode ter tudo, e não lhe falta razão, o balanço das vidas humanas joga constantemente sobre o ganho e o perdido, o problema está na impossibilidade, igualmente humana, de nos pormos de acordo sobre os méritos relativos do que se deveria perder e do que se deveria ganhar, por isso o mundo está no estado em que o vemos."

"Maria da Paz também pensa, mas, sendo mulher, portanto mais próxima das coisas elementares e essenciais, recorda a angústia que trazia na alma quando entrou nesta casa, a sua certeza de que se iria daqui vencida e humilhada, e afinal acontecera que em nenhum momento lhe tinha passado pela fantasia, estar na cama com o homem a quem amava, o que mostra quanto tem ainda de aprender esta mulher se ignora que muitas dramáticas discussões dos casais é ali que acabam e se resolvem, não porque os exercícios do sexo sejam a panacéia de todos os males físicos e morais, embora não falte quem assim pense, mas porque, esgotadas as forças dos corpos, os espíritos aproveitam para levantar timidamente o dedo e pedir autorização para entrar, perguntam se lhes permite fazer ouvir as suas razões, e se eles, corpos, estão preparados para lhes dar atenção. É então que o homem diz à mulher, ou a mulher diz ao homem, Que loucos somos, que estúpidos temos sido, e um deles, misericordiosamente, cala a resposta justa que seria. Tu, talvez, eu só tenho estado à sua espera. Ainda que pareça impossível, é este silêncio cheio de palavras não ditas que salva o que se julgava perdido, como uma jangada que avança do nevoeiro a pedir os seus marinheiros, com os seus remos e a sua bússola, a sua vela e a sua arca do pão."

SARAMAGO, José. O homem duplicado. São Paulo: Cia das Letras, 2002.

7 de ago. de 2010

DO PENSAR AMOR E FAMILIA - Fala de Antonio Frederico Knoll

E concluiu Quintana: Tenho medo de querer-te, por não entender nada de amor.
O amor é tão amplo, profundo e caprichoso que, às vezes,
tenho medo de não saber amar.
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A vida familiar é a melhor célula, com seus altos e baixos, a célula social verdadeira. Mesmo, porque resulta do que o amor fecundou. Nada supera o amor, mesmo com as suas incógnitas e suas surpresas. A vida familiar não é um mar de rosas, mas nela ocorre o melhor dos sentimentos que do coração verte até hoje.

As estrelas dessa constelação que me rondam na noite que se espreguiça louca, torce para que o sol apareça logo para poderem dormir, já que o amor passou de ronda, enquanto o sol dormia...

Antonio Frederico Knoll
Santa Maria/RS

3 de ago. de 2010

O livro de contos TEMPOS FRÁGEIS está no páreo! Confira a partida!

Aqui você conhece uma análise do livro feita em um torneio entre dois livros... por uma juíza... Bola na trave, gol... muito interessante.

A capa, o que ela imagina é o que é mesmo: vidraça quebrada e sangue na calçada.

http://gauchaodeliteratura.wordpress.com/2010/07/29/jogo-15-%e2%80%93-entre-facas-x-tempos-frageis/

24 de jul. de 2010

PRÊMIO AÇORIANOS - poesia

Composto por dois poemas distribuídos em 60 páginas, RESSURGIMENTO foi escrito quando morreu a calopsita da autora. Doente, a ave se erguia, quando a via passar. Logo após, sem forças nas patas, tombava. A ave fora sua companhia muitos meses, ao lado do computador, enquanto desenvolvia sua dissertação de mestrado. Resistente à morte, foi preciso sacrificá-la. Foi quando Sombras foi escrito. Semanas depois, a vida renasce em Aurora. Ambos poemas foram criados num fluxo contínuo.
A autora disponibiliza a maior parte do primeiro capítulo do livro RESSURGIMENTO, clique sobre o título da postagem e abra. Depois, leia em voz alta.
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18 de jul. de 2010

RESSURGIMENTO - Prêmio Açorianos 2006

Em 2005, a Academia Literária Feminina do RS brindou com o livro de sua Coleção Sempre Viva, o volume 3. De acabamento primoroso e delicado,
traz RESSURGIMENTO da poetisa e escritora, arquiteta e arteterapeuta Marilice Costi, que também é responsável pela criação gráfica.

Tendo como analogia, a vida e morte de uma calopsita, RESSURGIMENTO demonstra a trajetória entre sentimentos opostos: Sombras, etapa do sofrimento e Aurora, quando a poeta nasce como a luz cada manhã. De profundo humanismo, dominando a técnica da forma, da melodia e do lugar incomum, a autora instiga rompendo paradigmas. Morre-se e renasce-se no decorrer do poema. Marilice toca “nas feridas” e diz “abre-te sésamo”, sobreviveu “entre minas” e tem consciência de que abriu caminhos, pois foi “parte de um tempo rompidor”. Ela retorna à alegria da infância onde os amigos foram feitos, onde a felicidade pode ser encontrada e sustentada até a última morte, inevitável.
“Sou hoje um outro livro”, demonstrando um processo de maturação, o que é encontrado na sua escrita repleta de metáforas inovadoras, de vocábulos incomuns, de ricas melodias.
A autora leva o leitor a identificar-se com o sentimento universal e poético, expresso em versos pulsantes, num movimento lírico-dramático. Num fluxo contínuo, imprime um ritmo agitado e sem pausa, como necessária isomorfia ao tema, recurso fenomenológico denominado noese por Husserl. A inclusão do feminino está na natureza partícipe de vida e morte, berço e túmulo, útero e colo.
Dedica o livro aos amigos, que considera a dimensão exata do seu alívio, citando outro poema seu do livro Clichês domésticos.
Solicite aqui: www.sanaarte.com.br/publicacoes

13 de jun. de 2010

FALTA POUCO

mais inchada a cada dia
o diâmetro do útero se amplia

uma esfera que se alonga
que se achata

que romperá



30/08/1987 – Para Guilherme nascido em 08/09/2007

11 de jun. de 2010

NÃO PERCA! Escrita terapêutica: lugar de encontrar - oficina de arteterapia


O PODER TERAPÊUTICO DA PALAVRA ESCRITA em relatos de experiência, vivências individuais e em grupo, exercícios e leituras para a compreensão da singularidade, autoconhecimento através de conto, poesia, crônica.
Local: Rua Santana, 666/504 - Porto Alegre / RS Fácil Acesso -
Investimento: 3 x R $ 250,00 - (R $ 700,00 à vista)
Início: 29 de maio - Sábado (12 Encontros - 40 h/aula)
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aos sábados, pela manhã.

10 de jun. de 2010

dos contos do vigário (1) - "Palhinha para você" do livro GATILHO NAS PALAVRAS

Ela tinha um conto: O tempo perguntou pro tempo, quanto tempo o tempo tem... Os tempos frágeis. Ali... o tempo respondeu pro tempo que o tempo tem tanto tempo quanto o tempo tempo tem! Um travalínguas, o trava-afeto. Metáfora daquele amor. A linha divisória na cama de casal. A escala 2 para 1. Territórios. Distância. Impedimento.
O tempo agora seguiria esmaecendo qual pedaço dentro dela? Desconstruir o amigo. Era doloroso apesar das tantas carapaças que ela tinha. O problema era a importância dele naquela história... No cuidar o coração, sucumbir em labirintos distantes, Alzheimer? O medo dele. Iria enterrar todos os amigos e morrer de tiro de marido traído. Deus me livre, dissera ela, eu não suportaria a solidão. Passarinhos, águas, águias, ninhos desfeitos, carros fúnebres. Tudo passa. Mas como viver sem as sábias palavras dos amigos, os nossos sabiás? 
Há terapeutas para pessoas que vivenciaram catástrofes para esquecerem aquilo e sofrerem menos. Amores doentios são catastróficos. Daí que esquecer pode ser bênção. Assim, raspar com escova de aço a memória daquele tempo, era a vontade dela naquele instante de saudade. Passar a borracha nas escritas grafadas em  cores intercaladas, na fonte 56 quando ele gritava, a caixa alta como marcadores (ou seria marcar dores?), a idade e teor  51. Tornar pó o que fora valoroso: os registros.
Mas o que haviam sido mesmo? Ela descobriu-se viciada nos emails dele. Intoxicada em dicionários de um amor bandido. E isto a definhava assim como os desaparecimentos e as esperas. As mulheres, fadadas a esperar. Destino feminino, vício masculino. Ela passava então a criar mais e mais escritas, porque lhe eram sempre lenimento. Como uma alcoólatra das letras, não poderia passar sem frases cutucantes do pensar. O instigar os neurônios ao som da chegada dele em sua caixa de entrada no Outlook. O adolescer e o brincar. Para ambos? Provocações sintéticas, a escrita masculina; enquanto a mulher se esparramava num mar de carinhos e cuidados com as tristezas dele. Pela internet, mandava perfumes pelo ar.
Quem disse que era só de sexo o que falavam? O lúdico, muito mais sedutor. Brincar com as palavras. Querer passar a vara no teu corpo violino, ele escrevera. Mas entre alvenarias, nenhuma travessia. No amor, apenas um.
Me cansas, dissera ele, entre o divertir-se e o irritar-se, sempre um ínfimo tempo. Reclamava do pouco sono dela, que não deveria ficar até tarde no computador, era frio no sul, devia dormir, descansar. E outras tantas coisas miúdas de cuidados entremeadas nas queixas que foram aumentando.
Por causa dele, o in sana mudara a grafia. Antes: ela era saudável por dentro. Depois, demente. De mentes inquietas. Seletas? O cuidador de uma insana.
Viver, o grande exercício de liberdade e contenção. Entre um e outro, o desequilíbrio no traçar caminhos? Novos. De novo. Um continente sobre trilhos? Não mais pendurados nas mesmas videiras, nos plátanos podados, nos flamboyants floridos, e observar com alegria os mesmos lambrequins. A paineira exuberante, dissera, é você. E ela acreditara. Ele nunca a chamara de meu amor, muito menos de minha querida. Agora, a tristeza dela a escorrer pelas linhas das mãos miúdas que seguiam se medicando no decorrer da noite. 

Seguiriam aprendizes de suas estações?
Lembrou do medo dele de ser reconhecido nos escritos dela.

Mas duro mesmo foi quando essa mulher com corpo de menina reconheceu-se personagem dele. Ele, o escritor.


*
Marilice Costi é escritora, arteterapeuta, CEO do Cuidaqui.com . Entre suas publicações, o livro Gatilho nas Palavras, romance, 2012.

6 de jun. de 2010

DAS POSSIBILIDADES

Mexer em nossas histórias. Buscar forças para mudar? Temos lá alegrias que dão energia. Raízes que nos sustentam. Sonhos impossíveis, utopias que acreditamos.
Estimular novos neurônios e sacudir os que estão adormecidos fazem bem. A memória, a criação, a contação de uma história. No compartilhar com os outros, a possibilidade de mudar o ponto de vista. Reinventar.
Somos o que conseguimos lembrar? O que conseguimos reconstruir apesar de. Porque não são todas as nossas lembranças que são boas. As ruins, se as aproveitarmos, podem nos fazer crescer.
As mudanças, quando as queremos, podem se sustentar em nossas histórias de vida. Mas é preciso coragem para olhá-las, pois só assim poderemos lhes dar um novo lugar. Porque somos capazes de construir novos cenários.
*
Marilice Costi

21 de mai. de 2010

ESCRITA PERCEPTIVA - um lugar de encontrar

Não perca!

OFICINA DE ARTETERAPIA


O PODER TERAPÊUTICO DA PALAVRA ESCRITA em relatos de experiência, vivências individuais e em grupo, exercícios e leituras para a compreensão da singularidade, autoconhecimento através de conto, poesia, crônica.


Local: Rua Santana, 666/504 - Porto Alegre / RS Fácil Acesso - Bairro Farroupilha
Investimento: 3 x R $ 250,00 
Início: dezembro de 2016
Total: 40 horas/aula - 12 encontros

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20 de mai. de 2010

O TEMPO de viver E DE IR

A questão do tempo: como medimos, como vivemos e como ele passa num sopro. Parece que foi ontem: eu caminhava na minha rua, grávida – não sabia o sexo – e conversava como se ele fosse um menino, o meu caçula. Meu pai morreu sem conhecer esse neto. E parece que foi ontem que sentei no seu colo, porque ainda sinto o cheiro de sua pele, o calor do seu abraço, sou capaz de reconhecer a sua voz, ver o seu olhar de aprovação e de desconforto.
O tempo - entre aquele momento, em que me questionei sobre o que eu estaria fazendo quando aquele bebê fosse um homem, onde eu andaria, o que teria construído, como pensaria e o hoje - parece um fio longo, vez ou outra enosado, que se juntou a outros.  Uma voz que encontrou sentido. Um risco no papel: onde a palavra vida ali está inscrita sobre tantas outras. Tantas coisas feitas. Tantas escritas.
Aquele sopro, aquele momento continua em mim... como estarei daqui a outros 22 anos? O que será de minha geografia?

*Marilce Costi

9 de mai. de 2010

I.R.

você ficou de ir embora
e eu te comendo com os olhos
entre papéis de imposto de renda
e as minhas rendas

e me rendi na tua pele
em teu corpo língua corpo
em teu aperto peito aberto
ficaste, leão

* Do livro CLICHÊS DOMÉSTICOS, Marilice Costi, Ed.Movimento, 1993.

8 de mai. de 2010

PIANÍSSIMO

Vânia me esquenta as pernas. Trocamos temperaturas. Sofro neste sul invernoso. Ela adora um colo, não importa a estação. Prefiro que nos aninhemos quando há frio ou estou carente. Ela defende com garra o nosso território dos estranhos. Semana passada, uma amiga trouxe um cão-bebê. As atenções mudaram de foco e o que nunca demonstrou em anos de convivência ecoou em meus ouvidos: um fortíssimo som de dor.
Conhece os meus amigos e, quando eles chegam, seu tom é de boas-vindas. Sente que pode ganhar outros colos.
Quando percebe que vou sair, olha-me lânguida, entristece. No meu retorno, é queixosa. Reclama muito. E dissonante, encontra-se afônica de tanto chorar. A saudade. O abandono.
Quando volto de viagem, ela é a própria fêmea ao me receber, esfrega-se. Mal consigo levar a mala pelo corredor porque nos enroscamos uma na outra até meu quarto, onde passamos a brincar com alegria e delicadeza. Ela me cheira desde o pé, parecendo querer saber por quais caminhos andei. Onde mal suporto que me toquem, ela eu permito e gosto. Ela acolhe o meu cansaço em qualquer santo dia. Merece meu colo. Mas não podemos avançar. Dever-se-ia? Tão curta a vida. Suavemente nos deliciaríamos em carícias, lambidas, esfregaços, arrepios, pequenas mordidas, grandes mordidas, tudo sem machucar. Marcas de amor.
Quase gente. Ela deve ser assim por causa do nome.


Marilice Costi - 2009

30 de abr. de 2010

DAR ESPAÇO AO NOVO É ARTETERAPÊUTICO

Proporcionar encontros para romper barreiras, reconhecer sentimentos que fazem empacar, dar um espaço para o lúdico... Parece complicado? Mas é como rir e coçar... basta começar! Dar tempo para as relações humanas, enriquece e no compartilhar com os demais, novas portas se abrem. Há tantos caminhos a seguir que podemos ficar confusos. Uma coisa de cada vez.
A sala pode ter um novo nome? Que tal sala para o encontro e a criação? Dar lugar para a criatividade é iniciar um movimento, que também é cerebral.
A idéia pode ocorrer aos poucos. Encheu o próprio “winchester”? Está provado que uma noite do sono ajuda a organizar e o sonho pode trazer soluções.
Mas é preciso coragem para romper paradigmas. É preciso querer compreender os sentimentos que circulam em nós e nos outros, universais: mágoa, raiva, a inveja, medo, prazer, tesão, alegria, amor. E mesmo assim, percebermos a singularidade. Acredite nas diferenças, ali está o belo.
Os seres humanos são criativos em potencial. Deixar de lado a visão pessoal e o olhar de superiores, é fácil? Estamos repletos de imagens de pais, religiosos, professores, parentes: limitadores a impor idéias e comportamentos. Limites são importantes, mas não podem ser bloqueadores da criação.
Liberar sentimentos faz com que se penetre também no coletivo: o movimento não é só em mim. Deixar a idéia criativa fluir é permitir-se coser uma bela colcha de retalhos – a vida não é feita de pequenos fragmentos? Faça com isto, seu novo design.
Para criar, gastamos energias que dão bem-estar. São as endorfinas a fazerem seu papel. E até tiram a dor! Descarregar tensões alavanca o processo criativo, porque esvazia o que antes era ocupado por sentimentos desorganizados. Espaço vazio, potência renovada. Idéias, trocas, leituras e incubação... é caminho para fiat lux!
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Imagem do Frigorífico Z.D.Costi & Cia. Ltda. - acesso ao escritório - 2000 - arte gráfica Marilice Costi

24 de abr. de 2010

DAS (in)SANAS VOZES

Todas as mulheres são lindas, disse um sedutor, especialmente as quais me apaixonei. Serão sempre lindas...
Também afirmou que palavras eram meras palavras, iam e vinham e eu não tinha que dar tanto valor. O esbravejar, o expulsar, o  desvalorizar. Iguais ao construir, ao desejar, ao compartilhar, ao dar/ter prazer?
Palavras? respondi, há que ter cuidado com elas, porque contêm também nitroglicerina.
E foi assim que aquele amor terminou: o amor de atilho, o gatilho na voz.
Se meu interior sabia... por que não me contou?

Em tempos de internet, tão simples dizer maravilhas, tão simples deletar afetos, tão simples envolver e abandonar... As distâncias, as conexões instáveis, os cabos de aço que são fios dentais. O esforço em experimentos sem considerações finais. O aberto, o volátil, a fumaça. O medo na incerteza do amar.
Palavras? meu interior, meu ar, meu trabalho, minha sobrevivência, meu alimento. O respeito à construção nos outros e em mim.

Não tenho tempo de vida para guerras.

As verdades, as profundidades. O afeto? O real. O corpo e a alma.
Explosões? só se forem de amor.

Marilice Costi
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16 de abr. de 2010

DOS HOMENS "NÃO ENCRENCA"

Fui olhar o link da psicóloga que lista os tipos de homem que são 'encrenca': os sarados, os superiores, os narcisistas... Pensei se, em meus caminhos, algum dos enganos de amor me encaixasse ali.
Faltam na lista os homens que se bastam, que acham que são capazes de se bastarem. Não existe ninguém capaz de se bastar. O ser humano é coletivo per si. Dar colo e receber colo faz parte da riqueza da vida. Das humanidades.
Há outras encrencas que ela não cita... Os homens que só tem disponibilidade para namorar se não for no final de semana. Desconfie. Eles já estão ocupados com outra.
Os que não são capazes de compartilhar sua dor e de aceitar o cuidado de alguém... (a solidão nem sempre é boa companheira)  e que preferem a mesa de um bar a se mostrarem frágeis para uma mulher. Talvez nem saibam se cuidar. Talvez não saibam cuidar de alguém. O bastar-se pode ter a ver com o sentir-se diminuido diante de fracassos. Mas não deveria dar a sensação de menos-valia. Isto é coisa da sociedade doente que vivemos. Que o sucesso e o poder valem mais que os vínculos de afeto. E nem todos os fracasssos são por falta de empenho pessoal.
Homens que trocam sua mulher pela sua mãe? A falta de partilha, a falta de diálogo. A falta de cumplicidade? Ninguém deve competir com a mãe dele. Ela é surreal, está num patamar inalcansável. Por isso, observar como ele se relaciona com ela é fundamental. Ele tem que ter perdoado as falhas que ela cometeu, tem que entendê-la como um ser humano, tem que saber dar limites quando ela invade sua vida, tem que ter uma relação de respeito e de aprendizagem no convívio com ela, ser ponte entre sua mulher e ela, nunca um precipício. Não se importar com coisas miúdas. Ter confiança. Amor de mãe é eterno porque filhos são para sempre. A isso se pode chamar maturidade.
E há outros mais: os que gritam coisas parecendo que atrás de nós, mulheres, há um gigante. E só temos a sombra. Talvez não queiram a nossa sombra. Talvez eles briguem com a nossa sombra. Ou não queiram ver a sua.
Homens que não são encrenca? Pois é, estou indo contra uma matéria que recém saiu na O CUIDADOR. Raízes do cuidado.
Cuidado com o movimento de mostrar sempre os defeitos. Por que não se escreve sobre o valor deles? O dos homens "não encrenca"?
Mea culpa. Prometo escrever sobre isso.

Marilice Costi
Agradeço o artista plástico Dilamar Santos pelo link. Valeu!

12 de abr. de 2010

Oficina para profissionais: O PODER TERAPÊUTICO DA PALAVRA

Objetivo: desenvolver potenciais e compreender o poder da palavra no processo terapêutico. Relatos de experiência. A literatura disparadora. Experiências pessoais na escrita e na construção da literatura.

Publico alvo: arteterapeutas, arteeducadores, pedagogos, psicopedagogos, psicólogos.

Início: maio - doze encontros. Dia e hora a confirmar.

Reservas mediante inscrição e matrícula: 51 30287667

13 de mar. de 2010

GÊNIO INDOMÁVEL

"Não sabes de perda, porque ela só ocorre quando se ama algo mais que a si próprio."

"Ela peidava dormindo e às vezes ela se acordava. Coisas maravilhosas e boas como esta: é disso que sinto mais falta. As pequenas idiossincrasias que só eu conhecia. Era o que a fazia minha mulher. Ela conhecia todos os meus pecadilhos. Chamam isto de imperfeição. Mas não. São as coisas boas."

"Nós escolhemos quem deixamos entrar nas nossas vidas."

"A questão é se vocês são perfeitos um para o outro. Este é o segredo. Isto é intimidade. Você pode saber muita coisa mas só vai descobrir tentando.”


do filme: Gênio Indomável - Good Will Hunting

Um desejo? Um cofre? Uma chave?

Para cativar é preciso surpreender com coisas que são aparentemente banais: uma flor roubada, um bilhete inesperado, um abraço caloroso, qualquer gesto de partilha. O quebrar rotinas. Dançar sem pressa por instantes num momento e num lugar qualquer. O tocar cúmplice na perna por debaixo da mesa. O olhar? De ternura. O de desejo? O sinal de tempo de preparo.
O corpo de ambos? Sacrário conectado com o próprio interior. As rugas? Marcas de história. Alisar almas. Tanto que o mundo exige de juventude e beleza!

As alegrias mesmo pequenas compartilhar para vibrar em uníssono.

A proteção. O observar e cuidar do outro. Dar confiança. Dificuldades? Os desafios! O aprendizado comum. A segurança que só o amor legítimo é capaz.

Um homem não tem que ser fortaleza o tempo inteiro. Nem a mulher. Viver humanidades para ser útil um ao outro.

A sensação de pertença? Não o exagero, porque viver o tempo todo dentro do outro é adoecedor. Mas o respeito à necessidade singular de território. O espaço afetivo e o físico. Não é simples, mas possível.

Os amigos? A partilha. A vida em comunidade. O apoio quando a solidão ocorrer.

Caráter e ética? Justiça nos julgamentos. A verdade no perdão.
Não magoar propositadamente, cobranças são dolorosas. Falar, explicar, exercitar a paciência, acolher. A complacência com os demais.

O toque? A mão na testa febril. O copo de água na hora da sede. O pão. As mãos dadas ao caminhar pelas calçadas. A mão na coxa. A mão na bunda. A mão na vida.

O olhar futuros? O seguir na mesma direção. Nos momentos de desespero? A escuta, o apoio e a fé para recomeçar.

Para amar, é preciso conhecer valores e defeitos, primeiro em si depois no outro. E estar inteiro dentro da própria casinha, primeiro.

E brincar. Muito. Rir das trapalhadas cotidianas, dos tropeços, das falas insanas.

Os limites respeitados. A franqueza. O diálogo. A voz. A empatia. A alteridade. A comunhão. O colo. Masculino também.

Muita coisa? Para ter a chave de alguém, é preciso sair também de si.

4 de fev. de 2010

SERES-PRESENÇA

acolhem


rotos tocos feridos

apontam

brotos, sinais, partidas

adubam ao pé do ouvido

com olhar, voz ou escrita

equilibram interiores

e dão colo



amigos repartem pão de vida

15 de jan. de 2010

DO POETAR

Ao se fazer poesia
filtra-se o ar, move-se o amar
onde o circular humano
move-se como o mar

Ao se fazer poesia
alimenta-se a vida
onde os amores insanos
não devem guardar lugar

Ao se fazer poesia
ergue-se sobre as ruínas
a agonia e a calma
dando alma ao falar

Ao se fazer poesia
pode-se rir ou chorar
há direito a rebolar
ao descobrir novo olhar