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25 de ago. de 2010

A ARTETERAPIA e A OFICINA DE CRIATIVIDADE (HPSP)

Os primeiros registros artísticos foram encontrados no interior das cavernas. A caverna é útero, abrigo, gruta, catacumba, porão, esconderijo, casa, interior. Todos precisamos de cavernas, lugar privado onde se pode tirar as máscaras tão exigidas e necessárias para sobreviver. Fruto do imaginário, marcas da memória sensível, a arte é capaz de resgatar a memória, limpar nosso winchester cheio, esvaziar, remover o incômodo, muitas vezes, desnecessário.

Dar esta sensação foi intencional em um dos últimos ambientes criados no segundo andar da Usina do Gasômetro para comemorar os 50 anos da RBS? O excesso de imagens podia dar náusea, enxaqueca, mal estar. Cinco décadas de vida e história, foi bom relembrar e foi terapêutico resgatar raízes, mas absorver tanta informação requer tempo.

Diferente foi a exposição Tapete VOA-DOR, na Oficina de Criatividade do Núcleo Nise da Silveira do Hospital Psiquiátrico São Pedro, onde 120 tapetes criativos voam dores nos varais, num espaço onde o vento movimenta o sensível. Impossível não se emocionar com

9 de ago. de 2010

JOSÉ SARAMAGO - Sentirei saudades!

"No entanto, ao longo de toda a fala de Tertuliano Máximo Afonso, apercebera-se de uma espécie de roce incómodo na sua voz, uma desarmonia que lhe distorcia em certos momentos a elocução, assim como o característico vibrato de uma vasilha rachada quando se lhe bate os dedos, que acuda alguém a ajudar Maria da Paz, a informá-la que justamente com aquele som que as palavras nos saem da boca quando a verdade que parecemos estar a dizer é a mentira que escondemos."

"O caos é uma ordem por decifrar."
"Diz a sabedoria popular que nunca se pode ter tudo, e não lhe falta razão, o balanço das vidas humanas joga constantemente sobre o ganho e o perdido, o problema está na impossibilidade, igualmente humana, de nos pormos de acordo sobre os méritos relativos do que se deveria perder e do que se deveria ganhar, por isso o mundo está no estado em que o vemos."

"Maria da Paz também pensa, mas, sendo mulher, portanto mais próxima das coisas elementares e essenciais, recorda a angústia que trazia na alma quando entrou nesta casa, a sua certeza de que se iria daqui vencida e humilhada, e afinal acontecera que em nenhum momento lhe tinha passado pela fantasia, estar na cama com o homem a quem amava, o que mostra quanto tem ainda de aprender esta mulher se ignora que muitas dramáticas discussões dos casais é ali que acabam e se resolvem, não porque os exercícios do sexo sejam a panacéia de todos os males físicos e morais, embora não falte quem assim pense, mas porque, esgotadas as forças dos corpos, os espíritos aproveitam para levantar timidamente o dedo e pedir autorização para entrar, perguntam se lhes permite fazer ouvir as suas razões, e se eles, corpos, estão preparados para lhes dar atenção. É então que o homem diz à mulher, ou a mulher diz ao homem, Que loucos somos, que estúpidos temos sido, e um deles, misericordiosamente, cala a resposta justa que seria. Tu, talvez, eu só tenho estado à sua espera. Ainda que pareça impossível, é este silêncio cheio de palavras não ditas que salva o que se julgava perdido, como uma jangada que avança do nevoeiro a pedir os seus marinheiros, com os seus remos e a sua bússola, a sua vela e a sua arca do pão."

SARAMAGO, José. O homem duplicado. São Paulo: Cia das Letras, 2002.

7 de ago. de 2010

DO PENSAR AMOR E FAMILIA - Fala de Antonio Frederico Knoll

E concluiu Quintana: Tenho medo de querer-te, por não entender nada de amor.
O amor é tão amplo, profundo e caprichoso que, às vezes,
tenho medo de não saber amar.
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A vida familiar é a melhor célula, com seus altos e baixos, a célula social verdadeira. Mesmo, porque resulta do que o amor fecundou. Nada supera o amor, mesmo com as suas incógnitas e suas surpresas. A vida familiar não é um mar de rosas, mas nela ocorre o melhor dos sentimentos que do coração verte até hoje.

As estrelas dessa constelação que me rondam na noite que se espreguiça louca, torce para que o sol apareça logo para poderem dormir, já que o amor passou de ronda, enquanto o sol dormia...

Antonio Frederico Knoll
Santa Maria/RS

3 de ago. de 2010

TEMPOS FRÁGEIS, contos de Marilice Costi

TEMPOS FRÁGEIS

O livro possui contos sobre exclusão, singularidade e humanidade em um texto conciso. Traz a solidão, o desejo, o transtorno mental, a deficiência psicossocial, a velhice, a deficiência física, o alcoolismo e a violência doméstica, mas também a afetividade e a empatia.

Os contos estimulam a observação da humanidade em pessoas vulneráveis, em situações em que o idoso sequer era pensado, que os direitos humanos estavam em falta em todas as direções.

“Marilice Costi é uma fina crítica da realidade, das relações interpessoais falidas, da miséria, da exclusão social, dessa que, de tão acostumados, quase já não percebemos, da solidão. É quando a literatura assume seu papel de falar por aqueles que não têm voz, aqueles como Jaciara que “Perdia novamente, como vinha perdendo dia a dia.” (Jane Tutikian)

Em 2019, o livro foi utilizado em escola estadual dePontão/RS, através do Projeto Autor Presente - IEL. Os alunos interpretaram, filmaram, dramatizaram e ainda questionaram: "Como escreveu este livro na década de 70 se ele ainda é atual?" O poder da literatura atravessa o tempo, é universal.  Está aí o valor do trabalho humano da autora.

Feira do Livro de Porto Alegre. A poeta Gerci de Oliveira e a contista, Marilice Costi. 
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Capa: Imagem criada a partir de foto de Marilice Costi, feita em um sítio perto de Santa Maria/RS.

Foi trabalhado em software pela autora para que adquirisse sentido de acordo com o conteúdo do livro.

        O que ela expressa a você? Gostaria de saber. Escreva comentando.

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