Metáforas, imagens... literatura, pintura, música, expressão corporal, escrita... cuide-se com a ARTETERAPIA. Liberdade de criar através de estímulos criativos. Desbloqueie sua expressão, liberte sentimentos e ganhe mais qualidade de vida e autoestima. Criar gera saúde mental. Atendimentos presenciais e online.
texto abaixo do cabeçalho
13 de dez. de 2013
12 de out. de 2013
22 de ago. de 2013
DICAS PARA QUEM QUER ESCREVER!
Para o escritor, escrever é vital. Por isso ele se dedica ao ofício, porque para ele é necessário. Ele precisa escrever.
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11 de ago. de 2013
Homenagem ao meu pai
CASO PROIBIDO
Era
um caso de amor profundo, uma questão de raízes, um tipo de sentimento infinito
até. Trinta e três anos de paixão! Ele, a trezentos quilômetros de distância,
seu esteio, exemplo, segurança. Ela, frágil, mas corajosa, débil e às vezes inconsequente
pela vontade de viver e saltar barreiras que a idade impunha. Matilde o
carregava em seu coração num desejo de posse avassalador. Ela amava o seu
caminhar, o gesto dele pôr os braços para trás, o assopro quando perdia a
paciência e ria-se dos impropérios que Lauro esbravejava em sua língua de
origem. Ela desconhecia em parte os significados. Mas seus signos eram claros:
queria tudo em ordem, a mesa servida no horário exato, a comida com tempero
suave, o silêncio na hora da refeição, o cafezinho depois junto ao cigarro
filado. No final do dia, somavam mais de um maço. O médico proibira, ele não
comprava mais.
Quando
Matilde estava passando um tempo com ele, ao escutar o apito da fábrica, ia
buscá-lo. Cansado do trabalho, ele demonstrava alívio. Era um momento de êxtase
para ela: o caminhar lento de quem lidara o dia inteiro, o modo de atirar o
casaco sobre o ombro direito, as muitas chaves da fábrica no molho preso ao
cinto, o ouvir o próprio ruído ecoando do soalho nos barrotes, o verificar
portas e janelas, os conselhos dados ao vigilante na guarita e, antes de cruzar
o portão de ferro, o “não se esqueça de alimentar e dar de beber aos cães”.
Eles
continuavam pela calçada coberta de terra seca daqueles dias de verão que
margeava a avenida de paralelepípedos que se perdia atrás da Brigada Militar. E
viam o pôr-do-sol. Ele a olhava com cara marota de menino adolescente e
sorrindo dava-lhe um sonoro beijo espichando os lábios para alcançar sua face.
Chegavam em casa aos latidos do Duque. Havia o costume de limpar os pés na
grama, antes de ultrapassar a soleira. O chimarrão os esperava após o banho,
quando ele mostrava seu recato. Nunca se vestia na frente ela. Apenas quando ia
ao sanitário, não fechava a porta. Ela ouvia o som de um jato e ficava imaginando
como poderia acertar no escuro. O lugar nunca cheirava mal. Era muito
cuidadoso, sempre lavava as mãos ao chegar. Depois da janta, ela aguardava o
momento que seus olhos diziam: pode vir. Sentava no seu colo, então, lia o
jornal em voz alta. Ele escutava e marcava as notícias para ela recortar depois.
Era o que Matilde fazia enquanto durava a sesta. Lauro sempre descansava após
as refeições, como descansa agora, naquela cadeira do papai, para sempre.
Conto publicado no livro: COSTI, Marilice. Tempos Frágeis. Porto Alegre: Movimento, 2009.
31 de jul. de 2013
28 de jul. de 2013
GRÁVIDA DE ESPERAS - Marilice Costi
O que farei com a quantidade de textos que me vestem? Que me compõem por dentro? Que me fazem humana? Como esse que já fez aniversários... e estava entre os perdidos até hoje neste dia quase 10x6.
Abraços, MC
08/06/2013
O que importa nesta avalanche de vontades, de peles a tentar se colar, de dobras virando origamis, de alegrias mágicas e desejos interestelares, de ouvido e voz e ar, de pulmão e coração, o afago sangue adentro? Este querer/ser/ficar em território do outro, colo e acolhimento, um fincar mastro e hastear bandeira?
Importa é a voz que chega a quilômetros milhares quase anos luz, trespassando calor em ondas, em frequências de comunicação de corpo e alma que se buscam, em dobras que se desdobram, resiliência e plantio. Há espera de criar raízes, em desconstrução que se constrói, no cuidado do levantar tijolo por tijolo, lado a lado, apoio e engaste, planície e floresta, um rio onde o barco atraca no cais, sem medo a não ser a ausência de maré. Águas sempre-vivas. Quero como quem deseja 25 metros de um bambu adormecido há séculos, cachoeiras que fluam entre jacintos, margaridas do campo e onze horas. Quero como quem deseja alcançar o pico da cordilheira dos Andes ou as cavernas de estalactites, como a música de Dvorák, Bartók, Strauss, Ravel, Villa Lobos, Chopin e Bach. Um pensar composto no balanço e movimento de ondas a ocupar territórios vindos em paz e em par.
Quero compartilhar do ar, do olhar, do costurar o afeto na pele com cinzel e linha tecelã e agulhas de bordar, a desmodular sentimentos padrões e a clarear obscuros momentos. Quero amar neste frio de junho que avança metade do ano de vida adentro.
Quero me grudar. Me dar e amparar, ser muro de contenção, ser telhado em construção, ser espaço público e privado, ser da vida, luz e sombreamento, dinamismo e amarração.
Nós, exatamente e apenas um nós em profusão.
(escrito em 2008) Direitos Autorais Reservados MARILICE COSTI - 08/06/2013
(escrito em 2008) Direitos Autorais Reservados MARILICE COSTI - 08/06/2013
27 de jul. de 2013
Gatilho nas Palavras - ficção - Marilice Costi - p. 22
(... )
Iria ele cuidar de si a partir de agora? Escolheria a camisa sem mancha e com botões, teria sempre cuecas limpas na gaveta? Manteria as latas de chocolate e leite condensado e os pregos nas prateleiras no meio das roupas de passear? A premente necessidade de ter à mão o líquido doce através de um furo feito com a ponta de uma faca e martelo. A carência do seio?
O carrilhão tocou na sala. Lea acordou. Agora não com o ronco dele. E sentiu alívio. Na sua memória veio seu pai, para quem agora ela pediria proteção seguidamente. Não havia mais como aguentar a vida sem o útero a crescer, a lembrança do sangue perdido ao fazer o desejo de Jonas. Por que cedera? Olha as fotos de Natal e imaginou mais um ser ali. Qual sexo teria tido? Aquela mancha para sempre entre os dois. E nada jamais desfaria aquela cicatriz.
A noite se alongou. Rolou na cama até sucumbir finalmente ao sono. Seis da manhã, despertou com o corpo cansado. Pesadelo? Correu para o bloco de anotações. Esquisito lembrar-se daquele gringo no sonho. Onde andaria aquele homem das letras desenhadas?
25 de mai. de 2013
COMPREENDENDO
O tempo não espera por ninguém. Ontem é história. O amanhã é um mistério, o hoje é uma dádiva, por isso é chamado de presente. (Adalberto Godoy)
24 de mai. de 2013
Memórias de Marilice: INSISTÊNCIA DÁ NISSO...
Todos têm uma história sobre por que "desisti de ler". Não tenho dinheiro, ler demais não faz bem, não tenho paciência, não tenho tempo, não enxergo bem e muitas falas mais. Tenho a minha.
Ao voltar da escola e almoçar, eu ia ao meu quarto e deitava na cama para ler. Meu pai se aborrecia por me ver com livros que ele não entendia (Dialética da libertação, o que é isso? filosofia? Sartre? Os deuses eram astronautas?). Eu tinha 14 anos. E ele dizia, não me preocupe, minha filha. Você lê demais, Mari. Não é bom ler tanto!
Preocupado com o meu futuro, muito mais ainda com o meu pensar, papai tentava me controlar.. Estávamos na ditadura. Mas não faltava dinheiro para livros, enciclopédias, dicionários, revistas (exceto as Cruzeiro e Manchete que, se apareciam, tinham as páginas das mulheres pouco vestidas arrancadas. O nosso imaginário totalmente controlados pela minha mãe, As revistas Castigo? Ele & Ela? Nem pensar!
Havia gente que dizia: Aquele? Enlouqueceu de tanto ler! - era a fala corrente ao vermos passar um homem delirante pela rua em Passo Fundo. Aquele homem delirava em sua esquizofrenia!
Era sempre a mesma conversa pela cidade.
Vais enfraquecer os olhos, Mari. Muitos cuidados comigo. O controle.
E hoje, a Mari! É bom não ser dentro da casinha, apesar de muitos sobressaltos do caminho. Quem lê pensa. E a postura tem que ser cuidada... Gosto de andar sem lenço e sem documentos. Nas letras especialmente. Com os livros a me olharem, enquanto aguardam que eu penetre no mundo insondável das palavras, sou tão mais feliz!
Ao voltar da escola e almoçar, eu ia ao meu quarto e deitava na cama para ler. Meu pai se aborrecia por me ver com livros que ele não entendia (Dialética da libertação, o que é isso? filosofia? Sartre? Os deuses eram astronautas?). Eu tinha 14 anos. E ele dizia, não me preocupe, minha filha. Você lê demais, Mari. Não é bom ler tanto!
Preocupado com o meu futuro, muito mais ainda com o meu pensar, papai tentava me controlar.. Estávamos na ditadura. Mas não faltava dinheiro para livros, enciclopédias, dicionários, revistas (exceto as Cruzeiro e Manchete que, se apareciam, tinham as páginas das mulheres pouco vestidas arrancadas. O nosso imaginário totalmente controlados pela minha mãe, As revistas Castigo? Ele & Ela? Nem pensar!
Havia gente que dizia: Aquele? Enlouqueceu de tanto ler! - era a fala corrente ao vermos passar um homem delirante pela rua em Passo Fundo. Aquele homem delirava em sua esquizofrenia!
Era sempre a mesma conversa pela cidade.
Vais enfraquecer os olhos, Mari. Muitos cuidados comigo. O controle.
E hoje, a Mari! É bom não ser dentro da casinha, apesar de muitos sobressaltos do caminho. Quem lê pensa. E a postura tem que ser cuidada... Gosto de andar sem lenço e sem documentos. Nas letras especialmente. Com os livros a me olharem, enquanto aguardam que eu penetre no mundo insondável das palavras, sou tão mais feliz!
Marilice Costi (24/05/2013)
12 de mai. de 2013
Memórias com Minha Mãe
PARA MINHA MÃE
Minha amada Alice, a verdadeira senhora de meus domínios internos,
mar revolto de minha adolescência, calmaria na minha maturidade,
luz e sabedoria no momento de eu ir para a próxima idade.
Amor de esperança e abraço de acolhimento.
Um amor de agradecimento que não cabe em mim.
Porto Alegre, 12/05/2013
Marilice Costi
14 de fev. de 2013
DESCOBRIMENTO
sei agora
porque temo a morte
nos momentos de infelicidade
teu corpo
antes, meio de transporte celestial
me enterra
In COSTI, Marilice. Clichês Domésticos. Porto Alegre: Ed. Movimento, 1993, p. 42.
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