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14 de jan. de 2014

Memórias de Marilice: HISTÓRIAS DE MINHA MÃE


Mãe, o que vou fazer agora? Era muito comum lhe pedir após fazer meus temas escolares. Minha mãe sempre queria que eu dormisse após o almoço, porque, além de ser a hora do silêncio para a sesta de 30 minutos de meu pai, eu, hiperativa, lhe exigia muito e a cansava. Ela sempre criava algo ou me dava alguma tarefa que a auxiliava em seu trabalho de cuidar do lar. No entanto, dormir após o almoço era ter suas histórias e tê-la só para mim, pois seu colo era dividido sempre entre muitos netos e eu. A maioria das histórias, eu não ouvia o final, pois pegava no sono. Elas eram repletas de animais. O casamento dos ratinhos é o que mais lembro. O ratinho Lalau se apaixonou por Marieta e depois de namorarem, casou-se com ela, a mais inteligente e educada de todas as ratinhas do bairro. No dia do casamento, ele vestiu casaca e possuía uma flor na lapela. Marieta estava com um vestido branco de babadinhos, laços de fita, buquês de rosas biscuit (as que tínhamos em nosso jardim) e sapatinhos delicados forrados de cetim. A grinalda e o buquê exalavam perfumes e todos se encantaram quando ela passou pelo corredor da igreja na direção do altar, onde o futuro "maridinho" a esperava. Mamãe descrevia o padre, a roupa, o sacramento e cada um dos convidados com seus presentes. Após a cerimônia, havia festa com todos os animais da floresta, que teriam vindo especialmente para o casório. E ela encantava descrevendo cada um, pois naquele dia ninguém brigava com ninguém. Todos cantaram e dançaram até o amanhecer, quando os noivos então embarcaram em um navio a vapor para a lua de mel no Rio de Janeiro. E eu, aqui, talvez já tivesse adormecido.

Tenho certeza que meu prazer pela contação de histórias e pelos contos de fadas vêm dessas tardes, quando ela, sempre dividida entre tantas pessoas e coisas, era só minha naquela enorme cama acolhedora, onde ela me cedia o seu lugar, nunca o do papai. Eram os momentos em que ninguém me tirava do seu colo.

Um comentário:

dilamar santos disse...

Muito bom Marilice.Lindo ! Um abração pra ti e pro meu amigo Felipe. Quando eu fôr com mais tempo, vou vê-los.Beijo.Dila.