Impossível visitar a exposição de Baril´70 anos em nosso MARGS sem sair desconfortável e repleta de dúvidas.
De alta qualidade técnica, as imagens penetraram em mim. Devo tê-las ruminado durante o sono na noite que passou.
Confesso que tive dificuldade para entender as suas composições repletas de metáforas. No entanto, tocaram-me profundamente, Cumpriram-se.
A arte, tempo sim, tempo não, considerada necessária ou de valor social, apenas técnica ou registro de época, sem sentido ou com todo sentido, ou em outro modo de a enquadrar, é, a meu ver tudo isso e mais ainda, ela me cuida.
A arte, de nada serve se não mexer conosco, atuando em nosso interior, em nosso crescimento, na compreensão de nós mesmos e do mundo. Fundamental para que saiamos do sofá frente à tevê ou de nosso celular de visão diminuta como nos mostra um dos quadros de Baril, a arte provoca. E é o que sentimos todo o tempo enquanto procuramos, em suas pinturas, os desvelamentos!
Meu desconforto de ontem, hoje tomou rumo. E mais desconfortos virão.
Sinto-me representada naquele universo que o artista retrata, em suas pinturas em técnica impecável e total domínio expressivo, nos quadros que aguardam nas três salas da Pinacoteca do nosso Museu de Artes.
Um encontro com o desconforto?
Quem não se percebe “desrepresentado” nesse ciclo obscuro em que vivemos no Brasil e no mundo, e que, a meu ver, são tempos de horror e de descrença?
Pois Baril, esse artista consagrado - cujas obras conheço desde os meus releases na Galeria Cambona - traz também loucura e desesperança.
Na minha visita à exposição, encontrei mais de trinta pessoas do Instituto Pertence observando as obras, em ato inovador e transgressor. Imediatamente, comparei com outra de minhas visitas. Foi perto do Natal. Alunos de uma escola municipal metropolitana passaram de costas para os quadros, sob o controle da professora, a estupidez resultante do controle político de exposições em Porto Alegre.
Composição representativa de nossa dificuldade psicossocial, que nos desloca do nosso centro em meio a tantas violências e contradições, me sinto no olho do furacão.
Estou em um período próximo e similar à Queda da Bastilha? ou na Idade Média em um dos quadros de horror de Bosch?
Lembrei do que aprendi há décadas e do qual ninguém mais fala. Em meio a qualquer turbilhão, em qualquer depressão profunda, em qualquer país que afunda, no mundo dos medos, algo se prepara para nascer. Algo se encontra a caminho. A síntese vem se construindo.
Onde ficou nossa capacidade de compreender o mundo através da dialética? Isso é perigoso?
Vivemos a antítese do bem-estar, a antítese da boa política, a antítese do valor à vida.
No entanto, assim como se pode perceber em uma imagem arteterapêutica de uma mãe que atendi, o caminho para a saída já existe, as marcas estão por aí. Não está na hora de vermos esses caminhos e trazer a esperança aos mais novos?
Vamos encontrar o fio de Ariadne e seguir com nosso trabalho, persistentes e com fé.
Agradeço ao MARGS e ao curador da amostra de 70 anos do artista, por nos proporcionar essa exposição, capaz de mexer com nossas entranhas, para a qual é preciso ir liberando nossa mente para que nos auxilie a encontrar uma saída no labirinto que prazerosamente nos perdemos.
Metáforas, imagens... literatura, pintura, música, expressão corporal, escrita... cuide-se com a ARTETERAPIA. Liberdade de criar através de estímulos criativos. Desbloqueie sua expressão, liberte sentimentos e ganhe mais qualidade de vida e autoestima. Criar gera saúde mental. Atendimentos presenciais e online.
texto abaixo do cabeçalho
28 de jul. de 2018
27 de fev. de 2018
A vida traz novos planos - Marilice Costi
Ultimamente, a gente não se dá o direito de ser feliz ouvindo música com disco de vinil num meio de tarde. Nem "perder tempo" olhando as flores em um jardim. Estar na vida contemporânea é uma coisa desvairada. Ter consciência dói.
27 de jan. de 2018
A Fábula do Cuidador - Edelvais e o professor de voo
Abaixo, você tem um capítulo do livro da imagem.
Edelvais estava ansiosa. Caminhos novos. Pensou no Tratado Interplanetário dos Cuidados de flor. No direito a carinhos.
A fala do Príncipe permanecia em sua memória:
– Você é uma sonhadora. Ora, tirar raízes e querer voar? Comigo não! Sou quem faz acontecer, não viu meus feitos de norte a sul? Você, com suas estrelas furadinhas, não sabe do inútil? Você rouba meu tempo de fazer castelos. Ah, se as chamas dos flamejantes lambrequins apontando para o céu e impedindo lágrimas fossem reais! Aquele olhar molhado que você viu certo dia de partir era mea culpa por ter a alma misturada em perfumes de flor. Alergias! E depois, o que faria eu com você pela Via Láctea? Não posso cumprir desígnios que não são meus com um tipo de flor cujo aroma me dá náuseas!
A flor buscava a afinidade perdida, a ternura que só existe quando há compaixão. Ele dera boa noite e saíra batendo lata. Com pernas feitas para subir rochedos, fortes para colher edelvais, tinha-as machucadas por causa da armadura. Mas centrado em desejos de enricar, não sentia aquela dor. Sem mais delongas, o Príncipe desapareceu no buraco negro.
Talvez fosse importante aquilo. Distâncias de coração. Tinham compartilhado memórias antigas e assustaram-se com tanto interior comum. Daí que era melhor mesmo ter aquela lataria protetora de flores.
Onde encontrar a luz para ajudá-lo a romper engates de armadura? Ele desejaria se livrar daquela carga errante? O Óbvio fazia falta, o ser de cura sutil. As ervas medicinais!
O tom de voz raivoso e em espumante tempo, aquela flor carregou ainda depois da partida dele. O coração parecia estilhaçados cristais, mas ela conteve o choro. Não podia perder a água necessária para seguir caminhos.
O que tinham em comum? Ele era de abandonar, tinha lhe avisado. Ela acreditava no amor e continuava no ato de cuidar-se. Desistiria? Utopias de viver. Sem elas, não sabia viver. Era de voos. Mas queria colo.
Príncipes doentes de amor não seriam todos naquela galáxia. Desconcertada, ela desejou a redoma. Mas não tinha mais raízes para voltar.
Fernão a esperava no penhasco próximo da porta principal do Reino das Metáforas. Ao vê-lo, a edelvais sentiu a corola como um bambolê em movimento e flutuou no ar. Subiu meio metro. Lembrou-se dos lambrequins e ... leia mais no livro impresso. Solicite aqui.
*Você leu um trecho do livro A fábula do Cuidador, publicado em 2016, SANA ARTE.
Solicite pelo nosso contato ou pelo site das publicações no Sana Arte.
www.sanaarte.com.br/publicacoes
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